Violências invisíveis

violence women, red shoes, symbol, symbolic, humiliation, suffering, violence women, violence women, violence women, violence women, violence women

Eu evito assistir a alguns noticiários. Sabe aqueles que sempre falam a mesma coisa, retratam a violência diária que assola o mundo e que, ao que parece, serve mais para nos assustar do que nos informar? Quando assisto, meio que zapeando a TV no final do dia, nunca vejo nada sobre aquela outra violência, a que não tem cenas pesadas, nem policiais a postos.

O que não costumamos ver é a violência silenciosa, cotidiana, tão naturalizada que só percebemos a sua existência quando ficamos alguns segundos em silêncio, olhando para o nada, e pensamos: cara… isso também é violência.

Do que estamos realmente falando aqui?

Ser mãe não é violento. No entanto, quando o pacote inclui trabalho doméstico, trabalho remunerado, cobranças de todos os lados e, ainda por cima, um parceiro que acredita que recolher o lixo é “ajudar”, aí temos algo que merece atenção. Não a atenção da mãe. Essa já está no automático.

Com certeza todas nós, em algum momento da vida, já ouvimos que o pai da criança “ajuda”. Inclusive, eu sugeriria retirar esse verbo do vocabulário de alguns pais. Ajudar é empurrar um carro que não quer pegar no meio da avenida. Não é cumprir o básico da parentalidade.

A sobrecarga materna é tão comum que já virou meme. Dar conta de tudo é tratado como maturidade.

Uma parceria funcional é essencial. Porque, mesmo quando o parceiro está ali, na retaguarda, por mais que ele faça, grande parte das funções relacionadas aos filhos continua recaindo sobre a mãe. Agora imagine quando o companheiro é praticamente mais um filho somando à lista dos que o casal já tem?

E existe outra forma de violência que não tem cara de violência, mas é: a violência institucional.

Sabe quando precisamos de um atestado por ter levado nosso filho ao médico e recebemos olhares tortos? Ou quando ouvimos frases como “mais uma licença-maternidade?”, sem falar da ausência de políticas de acolhimento. A Constituição nos promete proteção. Está lá no artigo 226, parágrafo 8º. Mas parece que o Estado está vivendo sua fase adolescente: até nos ama, mas não faz ideia de como demonstrar.

Honestamente, às vezes parece que estamos sempre nos defendendo com as leis embaixo de um braço e as crianças penduradas no outro. E seguimos: mães, profissionais, donas de casa, cidadãs que equilibram tudo, inclusive a execução dos nossos próprios direitos. Porque se tem uma coisa que mãe sabe fazer é sobreviver.

Por Lady Ana Barreto – @lecafecomlady

Autor

  • Lady Ana Barreto

    Advogada, escritora e idealizadora do projeto Roda de conversa materna. Autora do livro “Deixa a mãe…”, que será pré-lançado em breve. Mãe de duas. Canal no YouTube voltado para mães. Atendimento focado em oferecer suporte jurídico para mães e filhos, especialmente em questões relacionadas a direitos como guarda, pensão, direitos do autista e orientação em casos de violência doméstica. Sou especialista parceira da revista Mães que Escrevem. Entre em contato. E-mail: ladyabsr@hotmail.com. Instagram: @lecafecomlady

Deixe um comentário

Rolar para cima
0

Subtotal