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– Ai, ai, ai…. Dói, minha cabeça dói. Minha cabeça dói.
Paciente chorosa e com dificuldades em se comunicar. Aos poucos foi se acalmando após adentrar a sala de atendimento em minha companhia. Ela não queria conversar, queria o médico de confiança dela. Dois minutos depois aceitou minha tentativa de aproximação.
– Ai! Minha cabeça dói, moça. Aceito uma água sim.
Começamos a conversar.
– Me conte uma coisa dona M., como é essa dor? Quando começou?
– FORTE. Muito forte. Não consigo nem coar o café, faz dois meses.
Seguimos conversando, pois a dor passava de acordo com a conversa.
– Onde ela aparece? Começa rápido ou devagar? Como que é? Me conta, pra gente poder te ajudar…. Acorda em função da dor?
– Começa aqui, dói tudo… ai, ai, ai, ai. Quero um exame da cabeça, eu devo ter um tumor… Não é possível doer tanto. Na UPA fizeram exame de sangue, mas daí não dá pra ver tumor. Quero uma chapa. Parece que eu vou morrer com essa dor! – dizia a senhora de 56 anos com o braço engessado.
Eu anotava e conversava com a dona M. tentando coletar o máximo de informações para pensar em uma hipótese e ao mesmo tempo conseguia acolhê-la, pois o vínculo já havia sido formado. Cefaleia tensional ou migrânea, pensava eu.
– Mas dona M., me responde uma coisa, o que aconteceu com o seu braço? Como quebrou?
– Meu filho bateu a porta no meu braço. Aiii, aiii, aiii. Dói minha cabeça…
Ela falava e gesticulava, mas seguiu dizendo:
– Meu filho, às vezes é possuído pelo demônio. Usa droga e quebra tudo lá em casa.
Nesse dia eu, mulher e estagiária, estava diante de uma senhora vítima de violência doméstica e, provavelmente, essa era uma das tantas causas da cefaleia.
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Autora
Ninace. A autora se reserva do direito de anonimato.