Por Kiusder Betancourt – @kius.vivirbien
Há alguns dias eu estava ouvindo uma entrevista sobre maternidade. Foi como se algo em mim encontrasse outro sentido, não definitivo. Algumas perguntas surgiram com urgência e gostaria que pudéssemos respondê-las juntas, como mulheres, como mães.
Antes havia pouco espaço para o desconforto materno ser expresso, não que agora tenha muito palco, mas pelo menos agora podemos repensar algumas coisas.
O que aconteceria se um dia todas as mulheres percebessem que o nosso sofrimento, esse que achamos tão íntimo e individual, não é tão distante do sofrimento da vizinha que é mãe, da professora da escola que é mãe, da psicóloga ou médica que é mãe? Esse que vem de formas variadas com nomes de sobrecarga emocional, culpa constante por não conseguirmos responder a todas as exigências que nos foram colocadas sem percebermos e que nos fizeram acreditar que são só nossas?
Se soubéssemos que somos muito mais parecidas do que pensamos, que sofremos, mais ou menos na mesma medida, pelo olhar na rua que nos julga se o nosso filho está assistindo desenho no restaurante enquanto comemos rapidamente e com desespero, que todas sentimos uma culpa enorme por não estarmos de bom humor o dia todo, que sentimos vergonha por não ter vontade de brincar com o nosso filho, por sentir falta “demais” da vida sozinhas, de que todas queremos reclamar, denunciar nossa solidão e falta de apoio em casa, na sociedade.
E se a gente pudesse falar mais sem tanta culpa, receio e prejuízo, talvez poderíamos nos dar conta de que estamos todas na mesma situação; que os sentimentos de tristeza, tão profundamente enraizados, não são sinais de uma doença mental em desenvolvimento que precisamos atender em solidão sem fazer muito barulho, porque independentemente da classe social, nacionalidade, idade, religião, é uma dor que todas com o “título” de mãe compartilham.
É possível pensar em espaços onde as mulheres possam falar livremente e sem censura sobre as ambivalências e os desafios constantes que a maternidade nos coloca, uma a uma e coletivamente? Poderia a função materna deixar de ser vista como algo de responsabilidade absoluta das mães? Enfim, algumas perguntas para gerar outras reflexões.