Assim eu sinto o crescimento da minha filha. Ela já completou 6 anos. Seis anos da maior transformação que a vida já me apresentou (pelo menos até agora). Seis anos de muito trabalho não remunerado da maternidade, mas devidamente desfrutado com muito chamego, fofurices e explosões de amor que eu nem sabia que podia suportar. Cansa só de lembrar os perrengues do início, as infindáveis noites em claro, a escrita da minha dissertação do sexto mês dela até a minha defesa que se deu 3 dias depois do seu 1º aniversário. Fácil não foi. Na verdade, foi bem pesado pra mim. Amamentei até 1 ano e 10 meses, paramos por iniciativa minha, porque, por ela, acho que mamava até hoje. Até hoje, ela faz carinho no mamá com saudade e boas lembranças. Eu também tenho muitas boas lembranças da conexão sem igual que rolava naqueles momentos. O tempo parava, literalmente. Depois de um período, quando o bebê já começa a se mexer bastante e, em seguida, caminhar, esses momentos ficam cada vez mais raros e cansativos, pelo menos assim foi pra mim.
E, daqui a pouco, ela já estava fazendo xixi no penico, na privada, e atualmente ela nem me avisa mais quando vai ao banheiro. Sozinha. Ela não precisa mais de mim. Rola um luto parecido quando o desmame acontece. Acho que por isso associei uma coisa com a outra. Esse é o último ano do primeiro setênio dela. Ela não é mais uma criancinha. Já se veste sozinha, já vai ao banheiro sozinha, já dorme fora (por enquanto só na casa dos avós, mas como uma boa sagitariana já prevejo, num futuro próximo, as noites nas casas dos amigos).
Por um lado, é um alívio. O perrengue do início já passou. Não é mais novo (mas nunca deixam de aparecer novidades haha). Ter que estar 100% do tempo ligada no que ela estava fazendo, para não correr o risco de ela estar comendo a comida do gato ou riscando as paredes (essa parte, quem conhece a nossa casa, sabe que é real, porque ela tem, nada menos, que 3 paredes as quais liberamos pra ela criar e fazer a arte dela em casa, mas isso é assunto pra outro dia) é exaustivo pacas e hoje ela fica horas olhando gibis da Turma da Mônica ou desenhando incrivelmente (às vezes, vale mais pintar as paredes no futuro do que reprimir os dons artísticos de alguém).
Ela me conta histórias incríveis, me ensina músicas e me faz prestar atenção no aqui e agora. Um filho é um presente muito grande. Tenho certeza de que todas as mães e pais que têm a oportunidade e escolhem estarem presentes no desenvolvimento dos seus filhos deveriam fazê-lo e desfrutar de todo o aprendizado que provém dessa troca. Mas ninguém disse que seria fácil, simples e que não daria trabalho. Quem diz que não dá trabalho, no mínimo, nunca cuidou de verdade.
Por outro lado, é uma dor, porque não deixa de ser um luto. Sou otimista e acredito que não estamos totalmente perdidos como humanidade. Porém, eu temo pelo futuro dela. Meu maior desejo é que ela seja uma mulher livre. Livre pra fazer o que ela quiser, ir onde quiser, vestir o que quiser, ficar com quem quiser, ser quem ela é exatamente do jeito que ela bem entender (claro que sem ferir os princípios éticos e humanos) e não ter ninguém julgando, diminuindo ou tentando convencê-la do que ela deveria fazer, gostar, comer, de acordo com alguma doutrina, religião, preceito, misticismo. Ou pelo patriarcado mesmo. Meu desejo é que ela possa tomar conta da vida dela, ter seus valores e conquistas, ter liberdade para andar na rua da forma que quiser, na hora que quiser, sem os medos que temos hoje… Mas sabemos que infelizmente essa não é a realidade da maioria das mulheres que habitam esse planetinha (muito menos das que habitam esse país).
Sei que ainda tenho toda a adolescência e alguma parte da juventude dela pra encarar e também desfrutar (quem sabe, né), todavia essa fase está sendo a melhor até agora. Já consegui retomar algum tempo comigo mesma (óbvio que sou privilegiada com uma rede de apoio bem presente – vovós e papai) e ainda estou conseguindo chegar com algum resquício de saúde mental no último semestre do doutorado (Será? – tema para outro dia também).
No fim, é mais um luto. Assim como quando morre a mulher e nasce a mulher-mãe, o luto que se apresenta quando nos damos conta de que eles não precisam mais de nós pra fazer tantas coisas que antes precisávamos dar todo o apoio, é real. Minha criança não é mais bebê, agora é uma criança grande, até a fada do dente já passou aqui em casa 3 noites.
Eu sinto um misto de tempo vai com calma, ao mesmo tempo em que me vejo ansiosa para o que está por vir. As incertezas são, com certeza (kkkk), a parte mais empolgante da vida.
Autora – Júlia Lahm
Revisão – Angélica Filha – @angelicaafilha.