Mulheres-mães protagonistas da própria história

Setembro Amarelo e puerpério

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Uma campanha que visa romper o tabu sobre o suicídio por si só já é um grande avanço. Mas sinto falta de um debate mais profundo e plural sobre o tema. Estamos falando de uma questão que é de saúde pública, mas que tem origem na forma como a sociedade funciona hoje.

Vejo dois problemas principais: a necessidade que temos de sempre parecermos felizes, plenos, principalmente aqui no Instagram, e a recusa da nossa sociedade de nos permitir viver o luto.

O começo da maternidade coloca quase 100% das mães nessa encruzilhada no puerpério, mas quantas mães estão dispostas a quebrar o tabu e falar sobre o tema? Temos dificuldade em abrir nossas fraquezas, nossas falhas porque nos é exigido estar plena com a chegada do bebê.

Mas TODO processo de luto exige fechamento, choro e tristeza. E porquê o puerpério é um luto? Porquê é nesse processo psíquico que nasce uma mãe. O luto é um rito social de passagem, onde conseguimos superar uma dor para renascer mais forte. É um processo necessário.

Não vivê-lo nos coloca mentalmente em risco. Pode levar a mãe a entrar num processo neurótico grave. Mas vejo o quanto não é permitido à mãe viver o seu luto. Quase ninguém está disposto a ouvi -la, olham o rosto cansado da puérpera com repreensão, exigem que ela se acalme, que tome remédios. É quase um cale-se! Ninguém quer ouvir a sua dor!

Ouvir é gesto nobre e delicado que poucas pessoas estão dispostas a fazer. Acolher a dor. Entender o momento. O puerpério pode ser lindo se aceitarmos viver esse luto plenamente.

Toda dor merece ser ouvida. Todo luto deve ser vivido. Chorar é humano e há beleza nas lágrimas que lavam a alma. Deixem uma mãe chorar, deixem uma mãe falar da sua dor. Ouçam. Pergunte a uma mãe com um bebê  de colo se ela está bem, não exija nada, não peça calma.

Ofereça colo, chá de erva doce, leve uma comida quente, ofereça ajuda p limpar a casa, lavar as roupas. Acredite: Isso pode transformar vidas. 


Autora: Thais Nunes. Formada em Letras e Mestra em Cultura. Cinéfila e leitora. Sempre gostei de escrever, mas foi com a chegada do meu filho Miguel que a escrita começou a se tornar uma necessidade para desabafar sobre as alegrias e dores e ser mãe. Uso meu Instagram @thaisinhafnunes para divulgar meus textos.

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