Os pais fazem de tudo por seus filhos, menos deixar eles serem quem são e esse é nosso maior erro.
Quando são crianças queremos escolher tudo, a roupa, os brinquedos, quais legumes eles devem gostar, qual copo usar, escolhemos as escolas e seus amigos. E quando eles querem um copo diferente quantas vezes dizemos não?
Outro dia uma das minhas filhas queria beber o suco em uma taça de plástico, de impulso eu disse não, mas em segundos me peguei na seguinte reflexão, por que não? Por que eu escolho o copo que ela pode tomar suco? A taça que ela pede é de plástico, não oferece risco e por que eu tô dizendo não?
Sim, dizer não faz parte, ensinar nossos filhos sobre como se comportar, impor limites é nosso papel. Mas até que ponto impomos a nossa vontade sobre a dele usando da autoridade que temos?
Até que ponto influenciamos suas decisões sem nem sequer avaliar os seus sentimentos?
Sim, fazemos isso pensando sempre no melhor para eles. Mas quem disse que algumas escolhas nossas serão melhores?
Outro dia falei a minha filha de dez anos, poxa eu fiz isso para te agradar e ela sem titubear respondeu, mãe o problema é que às vezes você acha que está me agradando, mas não está. E eu percebi que, na verdade, eu estava agradando a mim, fazendo o passeio que achei que seria legal. Eu pensei e eu decidi, não dei a elas nem a opção de opinar.
E quantas vezes faço isso? Me programo pensando em agradar sem ao menos dar a elas o direito de responder. Ainda espero que elas me reconheçam por isso.
Dizem por aí que filhos são ingratos, talvez sejam porque, na verdade, decidimos por nós o que é melhor para eles.
Filhos são pessoas, que desde pequeno vem construindo suas percepções e desejos, não devemos fazer tudo que querem, esse texto não é sobre isso.
Mas é sobre ouvir nossas crianças, sobre entender seus desejos, sobre deixá-los aprender a tomar decisões desde cedo, para que quando forem grandes saibam decidir.
Enquanto são pequenos podemos dar a eles autonomia e responsabilidade de acordo com suas idades e deixá-los aos poucos decidirem também suas comidas, suas diversões, seus Hobbies preferidos, seus passeios, podemos dar a eles o direito de errar em suas decisões, afinal estaremos lá para fazer o caminho de volta.
Na nossa rotina tenho tentado cada vez mais dar espaço as minhas meninas para decidirem o que já podem decidir, e pequenas coisas da nossa rotina estamos decididos juntas. Uma ouvindo a outra.
Estamos aprendendo a ouvir, a ceder, a entender, estamos ficando cada vez mais seguras, cada vez mais próximas, cada vez mais certas que juntas somos mais fortes e que todas temos voz.
É preciso ensinar nossas crianças, para que quando fiquem adultas estejam prontas para decidir quando ficar e quando ir embora, quando aceitar e quando recusar, quando falar e quando calar, quando ceder e quando se impor. É preciso deixar nossas crianças falarem, quando a ouvimos aprendemos mais do que ensinamos.
Ame tanto seus filhos, a ponto de ser capaz de ouvi-los e deixá-los ser quem são.
Por Leliane Ribeiro – @liliribeiro.escritora