Escutei ruído de tiros ao longe
e olhei assustada…
Não, não eram tiros
apenas, mamonas ao sol
espalhando suas sementes em diáspora!
Escutei gritos,
escutei ruídos de tiros bem perto…
São as mamonas, pensei!
Não, eram tiros realmente!
E corri… mas de nada adiantou
Estive capturada e acorrentada
Estive com grilhões nos pés
Com a dor no corpo e as lágrimas nos olhos.
Estive com a fome no estômago
E no escuro da Zomaï.
Estive no fétido tumbeiro
E na boca dos tubarões
Estive no mercado
Nua, vigiada pelo capitão do mato
Estive na casa grande e na senzala
a dormir com os ratos.
Estive no riacho
Lavando a imundície branca
Estive no quilombo,
No 14 de maio de 1888, sem teto, sem comida
Sem nenhum direito
Estive no quarto minúsculo da empregada servil
Cantando para ninar o filho da patroa.
Hoje, estou universitária
Estou professora,
Estou doutoranda.
Todas as coisas são passageiras:
Os lugares, os títulos, os cargos.
Apenas uma única coisa SOU
Mulher Negra Diaspórica!
Sobrevivente de todas as Negras Mamonas
Que com ou sem sol
foram espalhadas ao vento… na terra!
Por Sandra Lee dos Santos Ribeiro – @sankofalee