Alguém morreu ontem
Foi uma despedida nada comovida
Gritos e desesperos
Agressividade misturada com desejos
O orgulho de quem deu a última palavra
Foi embora com o coração ferido
Chorou na próxima esquina
Mas não olhou para trás
Alguém morreu ontem
E a dor parece que mata
Um luto que já conhecia
Morreu quem ainda vive
Na morada que diz: recomeço
Mas dói, dor que parece que mata
E a dor é um adeus que pode encontrar o defunto na próxima sacada
Alguém morreu ontem
E não houve o enterro
Será o dia a dia que afogará a mágoa
A força da saudade no esquecimento
Serão as flores por cima da terra funda
Que então poderá chamar moribunda
Alguém morreu ontem
E por enquanto só lembranças ruins são um conforto
O consolo é querer ver o morto morto
Sinal da cruz
Mas quem sabe um dia
Ressuscite o cadáver em uma brisa
E nasça a amizade que deveria sempre ter existido.
Por Jocilene Macário – @pretamacario