Perda gestacional

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Então você está lá, sentada naquela maca fria, com aquele grande monitor em sua frente, o médico fala algumas coisas, mas você não escuta. Seu marido segura a sua mão, mas você mal sente o tocar da pele dele na sua, tudo fica distante após o médico falar “o feto não está se desenvolvendo”.

Você veste a roupa, sai do laboratório com o exame na mão, o marido falando algumas coisas, tentando te consolar, tentando se consolar (afinal, a dor é dele também), mas você não escuta.

Coloca a mão na barriga e tenta entender por que isso esta acontecendo justo com você. Começa se perder em todos os medos que uma frase como esta traz a tona, “será que não vou poder ter filhos?”, “será que fiz algo errado?”, “será que tem algum problema comigo?”.

Você conversa com sua médica e ela explica que isso é muito comum, mas isso não te faz se sentir nenhum pouco melhor. Você conversa com pessoas que já passaram por isso, você lê 200 relatos no Google sobre casos parecidos e mais 50 artigos científicos sobre assunto, mas nada faz passar aquele zumbido no ouvido, aquele nó na garganta, aquele aperto no coração.

Então sozinha no escuro do seu quarto você desaba, você chora não apenas por você, mas por todas as mães que algum dia já tiveram que passar por isso, essa dor silenciosa e arrebatadora. A dor do fim do sonho de ser mãe misturada com a dor do silêncio de um coraçãozinho que você ouviu bater no exame anterior e que agora está sem batimentos, como conviver com a dor de uma perda assim?

Mas você segue, vai aos poucos catando os caquinhos, tentando entender que desta vez não era pra ser, e que o céu ganhou mais um anjinho, o seu anjinho. Os dias vão melhorando, vão ficando menos cinza, até que um dia será apenas uma lembrança, que para sempre vai doer, mas cada dia um pouco menos.


Autora: Anna Paula Navachi – Instagram: @mundoposparto.

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