Palavra-passarinho Ou corpo-ninho

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Te escrevi um texto com meus cabelos, 

meus dedos estavam ocupados sendo ninho.

Aprendi a ser corpo-ninho. Te aninhar virou meu verbo-ação participante.

Esse ninho que se forma entre meus braços e coração, se completa com seu ser, Yamandu. 

Meu coração, palha de ninho, embala nosso encontro. Às vezes faço ele bater mais alto, pra você ouvir. Danço com minha respiração e expiro calma pra te encontrar.

Na cabeça as palavras se formam. 

Torço para elas não fugirem, para eu colocá-las arrumadas, em linha, uma ao lado da outra.

Tentativa de controlar palavras-aves que querem se espalhar, livres; da mesma forma que surgiram, querem ir. 

Eu as chamo para ficar. Para poder desenhar esse ninho circular.

Cada palavra ao longo desses 16 meses foi gestada no nosso encontro. Algumas eu queria invisíveis; os outros, que elas nem existissem. 

Eu queria só exibir palavra flor, palavra fruto. Mas saíram os espinhos, saíram as ramas de folha seca, o fruto amargo. 

E no final, eu gosto delas, 

do fruto pequeno e azedo, dos espinhos que ornam as flores,

das florzinhas bem pequenas e sem cor, que incorporo ao nosso ninho.

Essas foram minhas palavras, pedaços de mim no mundo. 

Me ajudaram a drenar aqueles sentimentos empedrados. 

As sensações que nem eram minhas, o que me fizeram sentir. 

O que senti sem querer. 

E o amor. 

Que amor sem tamanho, que entrou em todas as sombras,

fez arco-íris das minhas dores. 

Com seu raio de sol fininho, meu filho, me ocupou por dentro e me jogou para fora.

Me conectou com o mundo através do seu sorriso. 

Meu braços, se tornam galhos.

Te fazem pousar, convite para descansar.

Meu líquido lembradiço, como conta Conceição Evaristo, se formou palavra. Lembrei como posso escorrer memória e encontrar tanto amor em gotas de leite. Esse líquido-memória-afeto é parte do ninho. 

O amor é o que aninhamos, meu corpo e o seu se encontram e bem no meio o amor acontece, uma nova coisa se forma e nos comporta. 

Nos re-configura. 

Nos embola, como nossos dedos entrelaçados, formando um novo coração.

Toda a cumplicidade do mundo cabe nos nossos polegares, ponta a ponta conectados. 

Todo amor do mundo cabe no encontro dos nossos narizes, num beijo de esquimó que aquece o ninho. 

Cabe no cruzar dos nossos olhinhos agatinhados, que parecem anunciar um novo tempo. 

A flauta embala esse momento, te convida pro mundo dos sonhos, desenho esse mundo com palavras para você sonhar. São sempre ecossistemas coloridos que se acendem quando você passa, nele você é amigo de todos os  animais e voa livre. Como quero que você seja meu filho: Livre!

Te embolo no nosso ninho pra você saber ser seguro e voar alto, meu passarinho.

Por Bárbara Pelacani – @mariposa_._amarilla

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