Como é cruel a corrida incessante para ser uma mãe incrível, né?
Estamos sempre com a cabeça a mil, divididas entre casa, filhos, parceiro(a), trabalho, saúde mental, saúde física, estudos, segurança financeira, ser mulher, ser filha e tantas outras caixinhas que tentamos administrar. Mas será que é realmente possível ser essa supermulher nos tempos de hoje?
Conversando com tantas outras mulheres, percebi que, mesmo com algumas diferenças, estamos todas correndo uma maratona. Aliás, muitas vezes nos doamos tanto que abrimos mão de quem somos e do que amamos fazer por nós, para ver o outro feliz. Triste.
Conheço mulheres que deixaram de trabalhar para cuidar da casa e da família e, hoje, se sentem frustradas, amarguradas e infelizes, sem perspectiva de sonhos maiores. Mas, ao mesmo tempo, também conheço outras que viram nesse papel a sua cura interior, longe dos perigos externos. Tendo a família como prioridade, se encontraram e está tudo bem.
Veja só: minha vizinha mesmo passou uma vida inteira se dedicando ao marido e aos filhos, sendo a esposa e mulher tida como ideal, mas foi abandonada emocional e fisicamente por um marido traidor. Hoje, ela olha para trás e se arrepende de muitas escolhas, mas não fala muito sobre isso.
Em contraponto, grandes mulheres de sucesso já relataram na mídia a frustração que sentem por não conseguir se dedicar aos filhos e à família como gostariam, porque o profissional toma tempo demais. Muitas se veem, em diversas situações, tendo que escolher entre a realização profissional e a presença ativa na criação dos filhos.
A grande verdade é que nem sempre os lugares que ocupamos hoje, como mulheres, têm a ver com os nossos sonhos. E, em muitos casos, a culpa bate quando corremos atrás do tão sonhado propósito de vida. Mas será que isso é restrito apenas às mulheres? Na grande maioria das vezes, sim.
A culpa materna é social, histórica, assim como a necessidade de prover, que muitos homens carregam. Historicamente, as mulheres ocupavam o papel de cuidadoras, zelosas e fraternais, sempre se dedicando aos cuidados. Já o homem ocupou, ao longo da história, o papel de provedor da família, caçador, protetor.
No entanto, mesmo com as mudanças sociais enfrentadas e sem a predefinição de papéis, em muitos contextos familiares ainda está impregnada, no subconsciente, a necessidade de se mostrar útil socialmente, exercendo esses posicionamentos arcaicos.
Mesmo fugindo desse padrão, muitas mulheres enfrentam obstáculos e dificuldades para conseguir sua liberdade profissional e financeira, mantendo-se ativamente presentes no contexto familiar. Ou seja: ainda queremos dar conta de tudo, estar em todos os lugares e não decepcionar ninguém. Mas, nesse cenário, nos frustramos conosco.
Hoje, me pego chorando diversas vezes, seja por cansaço, medo, desespero ou frustração. Ainda tenho sonhos que não consegui realizar. Ainda preciso abrir mão e fazer escolhas cruéis. Ainda quero ser a mãe mais incrível do mundo.
A terapia passou a fazer parte essencial da minha maternidade, e eu me pego frequentemente pensando no que eu estou errando e como posso ser ainda melhor. Mais forte, mais carinhosa, mais compreensiva. Sempre mais e mais.
Exijo mais de mim, do que faço por eles, de como falo, educo e entendo as vivências pessoais de cada um. Me sinto constantemente pressionada e cansada, com a mente pesada e o coração apertado. É injusto e muito cruel me sentir assim, acredite, eu sei, mas já se tornou involuntário, como um impulso autodestrutivo.
Talvez, um dia, quando eu conseguir entender de verdade o tal autoconhecimento e a inteligência emocional — que estão na moda —, eu consiga, de fato, aplicar a teoria de que devemos ser o melhor que podemos. Talvez, nesse dia, eu deixe de me sentir culpada por querer muito mais. Só pra mim.
Autora: @jmeira.souza – Jess Meira





