Nem sempre é fácil entender que os filhos adolescentes estão se tornando cada vez mais independentes à medida em que crescem. Há poucos meses atrás, antes da pandemia, os grupos de pais no whatsapp constantemente me recordavam disso.
Um exemplo era quando esse grupo trocava mensagens com dúvidas sobre tarefas de casa e provas, numa conjuntura em que todos os filhos dos participantes do meu grupo já possuíam seus próprios telefones, com autonomia suficiente para tirar essas mesmas dúvidas com seus pares.
Cada família tinha seu ritmo e suas particularidades, mas me parecia que todas tinham um denominador comum: as dúvidas e dificuldades relacionadas a dar cada vez mais liberdade a nossos adolescentes.
Ocorre que, atualmente, com o ensino a distancia imposto pela pandemia, diminuíram as semelhanças sobre a forma das famílias lidarem com a crescente autonomia dos adolescentes.
Sendo assim, os estudantes de uma mesma turma vivenciam e aprendem de formas completamente diferentes durante esse período, dependendo da postura de seus responsáveis.
Num extremo, alguns pais de adolescentes assumiram as rédeas do ensino a distância com o mesmo afinco dos pais de crianças que não têm idade suficiente sequer para ligarem o computador sozinhas.
Não somente acompanham o calendário de aulas, entregas de trabalhos e provas, mas participam com tal empenho das aulas e da elaboração dos trabalhos, que suscitam dúvidas sobre suas participações também durante as provas.
No outro extremo, há famílias que repassaram integralmente a seus filhos as responsabilidades decorrentes desta nova modalidade de ensino, quer seja por falta de tempo dos pais devido ao acúmulo de funções durante a quarentena, quer seja por enxergarem na situação uma oportunidade de amadurecimento para seus adolescentes.
Por enquanto, ainda não dá para saber quais as consequências no desenvolvimento desses alunos decorrentes de tais diferenças. Pode ser que alguns sejam favorecidos por notas mais altas decorrentes, principalmente, do esforço de seus pais.
Pode ser que outros não alcancem essas mesmas notas, mas desenvolvam maior senso de responsabilidade.
Quem sabe, também, os adolescentes estejam interagindo em seus próprios grupos de whatsapp de forma a diminuir essas diferenças e equalizar a experiência de aprendizado entre eles.
Só o tempo vai trazer as respostas para estas e tantas outras dúvidas que pairam sobre as conseqüências da atual necessidade de isolamento social.
Talvez o ponto de interseção entre essas experiências seja que todos os adolescentes terão críticas ao posicionamento adotado pelos seus pais durante o ensino a distância, quer seja por se fazerem excessivamente presentes ou por se ausentarem em demasia.
Nesse caso, a essência dos adolescentes não terá sofrido tantas alterações, comparando com a já conhecida adolescência pré-pandemia.