Seis e meia da manhã; uma sala fria, os médicos conversam sobre a vida, sobre o dia, sobre o que comeram, onde estudaram e de onde se conheceram, eu tremo.
Estou prestes a conhecer o serzinho que carreguei durante 9 meses. A minutos do encontro às cegas mais emocionante da minha vida.
“Senta, abraça o travesseiro e relaxa o ombro, vamos aplicar a anestesia”
Dói! O frio na barriga vem, a ansiedade me consome, formigamento, dormência, desconforto, ânsia de vômito. Oito camadas cortadas, fico inquieta, quero levantar, cheiro de carne queimando, minutos que parecem horas…
Chamo o anestesista pra perguntar se é normal a mão formigar, se é normal sentir falta de ar, querer vomitar, se é normal o barulho que estou escutando – ele me acalma, meu marido diz que está tudo indo bem. Digo que estou com medo, tremo, busco por ar, não encontro. A ansiedade me domina. Quero levantar, impossível!
Abrem a janela, família toda te assistindo, um plástico te separa de tudo que está acontecendo. Barulhos de instrumentos, todos com celular na mão, menos a minha mãe, os olhos dela estão preocupados comigo, outros olhos ansiosos pra ver o bebê, fotos, muitas fotos, sorrisos, a grande espera.
Não sinto nada e, ao mesmo tempo, sinto tudo. Passo mal, e ouço: “nasceu”. Marido chora, quem está assistindo sorri, movimento pelo quarto, observo tudo ao meu redor, parece câmera lenta, eu pergunto: nasceu perfeito? Tá tudo bem com ele? Ouço: “sim, deu tudo certo, é perfeito sim.”
Choro vem, mas não consegue sair, não sinto meu abdômen, está anestesiado, mal consigo respirar, choro fica preso. Me entregam ele, sim, é perfeito, é lindo, é ele, o meu filho! Sou mãe, a sua mãe! 23/05/2024.
Por Patrícia Tavares – @bellasysstudio