Ao visitar minha sobrinha recém nascida, julguei minha irmã porque ela não parecia tão feliz quanto eu achava que deveria parecer. Como mãe perfeita, afirmei que eu transbordaria felicidade quando tivesse minha filha recém nascida nos braços.
Quando meu sobrinho já crescido ainda dormia no quarto dos pais, julguei minha cunhada por não ter ensinado que ele deveria dormir no próprio quarto. Em toda minha perfeição, decidi que filho meu dormiria sozinho desde sempre, porque os pais precisam ter a intimidade preservada.
No carro com minha irmã, eu me incomodei porque ela só tinha olhos para a filha que reclamava na cadeirinha. Como mãe perfeita, afirmei que minha filha não seria o centro da atenção e eu a educaria para se entreter sozinha.
Quando meu sobrinho demorou para desmamar e levou ainda mais tempo para desfraldar, julguei sua mãe por amamentar um menino que já sabia andar, e por não ter pulso firme no processo de desfralde. Em toda minha perfeição, decidi que filho meu mamaria até um ano e com dois já usaria a privada.
Mas, de mãe perfeita que ainda não era mãe, tornei-me uma mãe imperfeita, porém real.
Como mãe real e orgulhosamente imperfeita, desejo voltar no tempo e abraçar minha irmã no seu puerpério, como ela fez comigo quando minha filha nasceu e eu não encontrei a felicidade que deveria transbordar de mim.
A mãe imperfeita que sou divide a cama com a filha, enquanto o marido dorme sozinho. Afinal, a maior vulnerabilidade está na criança, e a intimidade dos pais não é determinada pelas noites que dormem juntos.
Como mãe real, paro qualquer conversa para ouvir o que minha filha tem a dizer. E, orgulhosa da minha imperfeição, amamento uma criança de dois anos e não tenho pressa em vê-la usando a privada, pois sei que desmame e desfralde são processos complexos que exigem maturidade da criança e respeito do adulto.
Que sorte a minha ser tão imperfeita a ponto de não conseguir ser nem a metade da mãe perfeita que eu imaginava que seria. As convicções do meu maternar real passam longe das idealizações críticas do meu maternar fictício.
Autora: Luciana Godoi é mineira, advogada, casada com o Caio e mãe da Flora. Apaixonada pela escrita desde sempre, cursou Direito para convencer por meio de palavras. Quando sua filha nasceu, ela se autoconheceu e situou a escrita como vocação, passando a usar as palavras para acolher e inspirar. Instagram: @lugodoi.
Este texto foi revisado por Viviane Moreira.