Ser mãe é uma tarefa dificílima. E ser mãe de criança negra mesmo na cidade mais negra do Brasil, Salvador, é mais difícil ainda. A minha filha hoje tem 32. Mas, quando ela nasceu, as crianças negras não gozavam da liberdade de usar os seus cabelos como bem quisessem.
Os cabelos tinham que ser trançados o tempo todo, ou alisados. Como eu sou ousada, não alisei os cabelos da minha filha. Uma vez ela me pediu para cortar uma franja, isso porque suas coleguinhas tinham os cabelos lisos e com franjas. Eu atendi o seu desejo, cortei a franja, ela foi para escola com os cabelos molhados cheios de creme, mas ao retornar da escola ela estava com os cabelos nas alturas, secos e toda feliz, porque estava com os seus cabelos soltos pela primeira vez.
Que bom que hoje as crianças negras conquistaram “um pouco” a liberdade de usar os seus cabelos como bem quiserem: black, cacheados, alisados, coloridos, com tranças postiças, mega hair, cabelos longos. Aos poucos estão assumindo a identidade negra.
Autora: Maria das Graças de O. Rocha, funcionária pública, professora, advogada, escritora, poetisa, casada 58 anos, mãe 4 filhos, sendo 2 biológicos.