Quando olho para a ausência da família paterna na criação da minha filha, sinto uma mistura de dor e de alívio. Não posso negar que, por vezes, me pego pensando: até que ponto devemos desejar e permitir essa presença? Sei que o ideal seria uma convivência rica, cheia de amor, mas essa não é a minha realidade e de tantas outras mães que conheço.
A relação não é saudável, e isso traz mais questões do que respostas. E nessas horas, a culpa, quase sempre, recai sobre nós, as mães, noras, filhas. Por que será que sempre nos vemos como responsáveis por esses laços desfeitos?
Aqui, a verdade é que essa ausência paterna tem raízes profundas, que vão além da minha filha. Lembro de uma vivência contínua de apenas uma tia, casada com o irmão do meu pai, na minha própria infância. As outras tias, irmãs dele, eu praticamente nem conheço. São rostos sem nome, histórias que nunca vivi.
E os sobrinhos? Filhos do meu irmão, filhos do irmão do meu esposo… a convivência é tão distante que às vezes até esqueço que eles existem.
Esse distanciamento é algo cultural, enraizado. Não é uma escolha consciente, mas acontece. E quando me dou conta de tudo isso, me pergunto: será que estou perpetuando um ciclo de ausência? Será que devo lutar por essas conexões, mesmo sabendo que podem trazer mais dor do que conforto?
Por outro lado, me pergunto até que ponto devo carregar esse fardo sozinha. A maternidade já é, por si só, cheia de culpas, expectativas e pressões. A falta de laços com a família paterna não deveria ser mais um peso em nossos ombros. A saúde mental de uma mãe deve e precisa ser vigiada, protegida.
Essa é uma reflexão que compartilho de coração aberto, como uma amiga que também está tentando entender esse turbilhão de emoções. Talvez você, assim como eu, já tenha se questionado sobre essas ausências, e o que elas realmente significam. Será que precisamos mesmo dessas relações para nos sentirmos completas? Será que, em alguns casos, a ausência não é também uma forma de proteção?
Por Erica Matos, mãe da Dora, 6 meses – @euericamatos
Revisão: Angélica Filha