Eu não queria ser mãe

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“Eu não queria ser mãe”, e essa não é uma frase que corresponde a uma gravidez indesejada. Eu não queria ser mãe agora, depois de ter dois filhos. Não, não estou dizendo que queria perdê-los ou que eu morresse; também não se trata disso, obviamente. Eu os amo com toda a minha força (e falar isso, a meu ver, é muito redundante).

Eu só queria não precisar dar ordens, pedir mil vezes, pelo menos por uns 9 anos repetidamente, ações que são importantes para eles, como tomar banho, escovar os dentes, colocar casaco no frio, sem ser reconhecida por isso como bruxa ou chata, ou qualquer característica que até eu mesma reconheço ao me olhar no espelho nesses anos todos.

Estou tão cansada de ser chata. Estou tão exausta de ter que ir ao mercado e comprar coisas saudáveis e pesadas para carregar para casa, em um mundo tão doente, sendo que para mim qualquer macarrão instantâneo bastava. Acho que estou cansada. Fora que, se comento essas dificuldades, muitas pessoas, ao invés de só ouvirem — ou enfim, nem eu sei o que seria esse “ou”… — apontam minhas escolhas, como, por exemplo, me separar e não ter marido para ajudar, como se isso significasse algum tipo de suporte ou alegria. Ah, claro! Não posso deixar de citar a indicada terapia, mas não tenho tempo para isso e, com todo respeito, dependendo de quem me atenda, não sei se me compreenderia.

Alguns estudos e filosofias apontam a mãe como geradora da vida e, ao mesmo tempo, castradora, por assumir esse papel que designa o rompimento de uma possível aventura perigosa, como “desce daí, filha, vai cair”. Alguém consegue encontrar algum estudo que parta do ponto de vista da mãe, sem pensar na criança? Isoladamente na mãe?! Acho que estou cansada…

Por mais que aqui seja um canal de desabafo, ainda me sinto culpada em escrever ou pensar certas coisas. A culpa parece nascer junto na maternidade e talvez nos deixe quando eles crescerem ou nos persiga até a morte.

Para aquelas que, sozinhas (acompanhadas ou não), permanecem fiéis ao maternar: o que ainda me faz continuar, com algum tipo de sorriso nos olhos entre tantos desafios, é justamente saber que hoje ainda anoitece e amanhã amanhece. Que, mesmo sabendo que erro muitas vezes, também acerto e, sem querer consertar, sem querer também não me importar de permanecer errando, sem querer fracassar ou “dar o meu melhor” o tempo todo, sem esperar demais ou de menos, amo meus filhos, a vida segue e essa é a mãe que consegui ser.

Por Debora Moraes

Revisado por Gisele Sertão

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