Eu era uma ótima mãe

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Há muito tempo, antes de pensar em ser mãe, vi um livro em uma vitrine que tinha o seguinte título: “Eu era uma ótima mãe, até ter filhos”. Achei aquilo curioso e, apesar de não ter lido o livro, esse título nunca saiu da minha cabeça, sempre me fez refletir sobre as inúmeras noções pré-concebidas que temos da maternidade e sobre a educação dos filhos.

Que atire a primeira pedra quem nunca disse coisas do tipo: “filho meu não vai comer besteiras”, “filha minha não vai ver TV até tarde”, “se fosse meu filho não seria desse jeito”. É engraçado como achamos que, por termos crescido vendo nossas mães exercerem seus papéis maternos diariamente, temos plena noção de como é ter filhos. E baseados nisso, entendemos que podemos dar palpites nas formas como os outros cuidam de suas proles.

A maternidade é uma coisa incrível, poderosa e assustadora. Ela tem o superpoder de acabar com todas as crenças enraizadas dentro de nós sobre o que é ser mãe. Por mais que a gente tente se preparar.

Leia livros, assista vídeos, converse com outras mães, escute sua própria mãe e tente ser uma boa menina, a maternidade irá nos pegar de calças curtas, e perguntará onde é que estávamos quando a aula sobre ser mãe aconteceu.

Quando a menstruação atrasa e o exame indica que vem um bebê por aí, parece que as estrelas se realinham e um novo mundo se abre para você.

São lindas as mensagens de parabenização e felicitações à nova família que a gente recebe, já que bebês são a mais pura encarnação da fofura e da felicidade que uma mulher pode ter, não é?

De todas as mensagens que recebi, lembro apenas de uma, que dizia, sem papas na língua, que quando aquela coisinha rosa estivesse se esgoelando e que tudo que eu mais desejasse fosse jogá-la pela janela e sair correndo, que eu poderia deixá-la no berço, sair do quarto, tomar uma água, respirar fundo e me acalmar, pois tudo ficaria bem, já que ninguém nunca morreu de chorar.

Na época, achei a mensagem inusitada, e levei na brincadeira. Eu não estava acostumada com pessoas me mostrando a verdade tão nua e crua.

Mal sabia eu o quanto iria me lembrar dela como a única pessoa que teve a coragem de ser sincera comigo. Seus conselhos foram realmente úteis e me fizeram perceber o quanto a maternidade pode ser solitária.

Alguns meses depois, uma colega de trabalho me confessou que, até ter a primeira filha, ela achava que essas coisas de mãe eram tudo frescura, coisa de quem não sabe se planejar e que era super tranquilo organizar a vida com os filhos e a carreira. Mal sabia ela o tapa na cara que a esperava e, como ela mesma disse, teve que engolir as próprias palavras e hoje tinha consciência de sua total falta de empatia com as colegas mães.

Por incrível que pareça, essa é uma das belezas da maternidade, nos fazer enxergar coisas que antes não víamos, nos permitir ser pessoas melhores, aprender que não importa quantos tombos o bebê leve ao tentar andar, há sempre a chance de levantar e tentar de novo, até conseguir.

Faz com que olhemos para a complexidade do ser humano, em como é frágil e delicado, nos fazendo entender a importância de celebrar as pequenas conquistas do dia-a-dia.

Ser mãe é uma enorme prova da nossa humanidade, a partir dela encontramos nossas vulnerabilidades e nossas forças desconhecidas. Ela é permeada de alegrias imperfeitas, de momentos de dor e culpa, de amor infinito e beijos melados, de noites mal dormidas e cansaço extremo, de superação e fé. Ela ressignifica nossa vida, nos conecta com a história de nossos ancestrais e nos faz aceitar que, ao invés de sermos ótimas mães, podemos ser mães reais e isso é ótimo.


Autora: Lizandra é apaixonada por boas histórias, sejam elas contadas em uma roda de conversa ou escritas em um livro. Escreve desde criança, mas só agora decidiu voltar a se enveredar no mundo das palavras. É mãe de duas crianças, uma menina de 13 anos e um menino de 6. É louca por livros e suas leituras prediletas incluem obras de ficção, fantasia, ficção científica, romances históricos, contos de fadas e mitologias. Já teve dois artigos publicados na Revista Aberta de Mitologia e participou da antologia Casa Nua publicada em ebook pelo Coletivo Escreviventes. Publica seus escritos no Medium (www.medium/@lizandrasilveira) e no perfil @as.aventuras.literarias no Instagram.

Texto revisado por Vanessa Menegueci.

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