Crônica – O dia que aprendi sobre Felicidade

Ah! Então, eu preciso estar chorando para não estar bem? E gargalhar para que esteja feliz? E mais, algo de muito ruim precisa ter acontecido para que eu não me sinta bem? Mãe, você, às vezes, é estranha.

Crônica – O dia que aprendi sobre Felicidade

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Todos os dias, tenho alguns afazeres que são programados, e a hora de pegar as crianças no colégio é um desses. Meu celular me avisa o horário, entro no carro, ligo o som, simplesmente, dirijo e me perco em meus milhões de pensamentos.

E este foi mais um daqueles dias, no automático. Quando peguei os meninos, perguntei como tinha sido a aula, o que tinham feito e como eles estavam se sentindo. 

Mas aí veio um sonoro “não estou muito bem”, seguido de um sorriso no rosto. Sem ao menos me atentar naqueles dentões aparecendo, fui logo aflita perguntando: o que aconteceu? E o Felipe respondeu: nada! Não entendi e perguntei de novo: mas o que aconteceu para você ficar triste? Mãe, não estou triste, se você reparar bem em mim estou sorrindo, não estou chorando, mas não estou bem. 

E aquelas palavras não fizeram o menor sentido para mim. Como você pode estar sorrindo e dizer que não está bem? E o que aconteceu para que você se sentisse assim?

E ele, com a maturidade de um velho sábio, falou: Ah! Então, eu preciso estar chorando para não estar bem? E gargalhar para que esteja feliz? E mais, algo de muito ruim precisa ter acontecido para que eu não me sinta bem? Mãe, você, às vezes, é estranha.

Aquilo veio em forma de pontada no estômago, daquelas que a gente vai logo tomando um Buscopan para aliviar. As crenças enraizadas ao longo dos meus 44 anos não me permitiram ver algo tão simples, que somente a pureza de uma criança seria capaz de me mostrar. 

O que de fato eu sabia sobre felicidade, e o quanto eu era feliz e não imaginava.

Sim, meu filho tinha razão, é completamente possível se sentir triste, desanimado ou enfrentar outras emoções negativas e ainda ser feliz. A felicidade não é uma emoção exclusiva, mas um estado mais amplo de contentamento e bem-estar que abrange uma variedade de sentimentos e experiências.

Ser feliz envolve ter uma perspectiva positiva, encontrar significado na vida, cultivar relacionamentos saudáveis, apreciar as coisas simples e ser grato pelas bênçãos que temos.

Ali, dirigindo, me desliguei por alguns segundos e só conseguia ouvir meus próprios pensamentos, embora o barulho no carro estivesse ensurdecedor, pois os dois já estavam brigando e tentando provar quem sabia de cor a tabuada do dois, três, quatro, cinco…

Intrigada questionei o Fe como ele chegou nessa forma de pensar. Que controle emocional era aquele? 

E a resposta veio como uma flecha direcionada ao alvo das minhas emoções: 

“Às vezes, eu me sinto triste ou com raiva, quando discuto com meu amigo ou não posso jogar futebol no colégio. É como se meu coração ficasse um pouco pesado. Mas isso não significa que eu não seja feliz. Mesmo quando estou triste, ainda há coisas que me fazem sorrir. Como quando eu sei que você vai chegar para me pegar e levar para casa ou saber que vou comer o seu delicioso macarrão com salsicha. Isso já são razões para que eu não dê tanta importância para as outras coisas que me chatearam. Simples assim.”

E mais uma vez, sem clichê, a frase: aprendo mais com ele do que eu possa ensinar, vai se fortalecendo. E, assim, o meu menino me deixa mais uma lição.

Apreciar as pequenas coisas da vida é uma forma valiosa de ser feliz todos os dias. Muitas vezes, nos concentramos nas grandes realizações e eventos, negligenciando os momentos simples que podem trazer alegria genuína. Parar para apreciar um pôr do sol, uma super lua, saborear um café ou chegar em casa e simplesmente tomar um banho quente, são pequenos prazeres que nos lembram de como somos felizes.

Encontrar significado em nossas atividades diárias pode nos dar uma sensação de propósito e direção.

Terminei o trajeto de volta para casa pensando, entre uma tabuada e outra, que a vida é repleta de altos e baixos, de momentos alegres e desafios, e isso é uma parte intrínseca de quem somos. A felicidade não nega a tristeza, o medo, a raiva ou outras emoções menos positivas. Em vez disso, ela reside na maneira como lidamos com essas emoções e como encontramos um equilíbrio em meio a elas.

Eu precisava me permitir sentir todas as emoções, mas não ser dominada por elas. Eu só precisava ser gentil comigo mesma, abraçar minha vulnerabilidade como parte de quem eu sou e aprender a encontrar a luz mesmo nas sombras. 

Com as palavras do meu filho, eu pude entender que a felicidade não é um estado constante, mas, sim, uma maneira de viver e abraçar todos os aspectos da minha vida com aceitação e gratidão.

E o saldo desse dia, no trajeto de 10 minutos do colégio para a casa, eu pude perceber que sou, sim, feliz todos os dias, apesar de não estar feliz o dia todo!

Por Fabi Dias – @fabi_diasm

Revisão: Angélica Filha

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