Coluna – Quando a emoção não vira lágrima

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“Por que você não chora?” – Ouvi essa frase de uma mãe para outra.

“Você não se emocionou? Como?”

Ah, se eu te contar…

Se tem uma coisa que uma mãe preta faz é se emocionar. A gente sangra por dentro por coisas que nem todo mundo entende (e talvez nunca venha a entender…).

Emoção nem sempre tem a ver com lágrimas – e não porque elas não existam; é que, às vezes, nem dá tempo! A maternidade romântica não encontra muito espaço por aqui.

Emoção não é termômetro de sentimento! Até porque eles, os sentimentos, quase nunca são validados.

Você sempre precisa estar disposta – principalmente para ajudar de coração, porque te veem assim: amorosa – aquela que se doa aos outros. Trabalho voluntário, porque isso é nobre.

A gente rala tanto, e desvalorizam nosso suor como se fôssemos responsáveis pelo próprio sofrimento.

Logo nós, que carregamos tantas lutas, que emprestamos nosso colo, que alimentamos tantas vidas… Nós, que abdicamos de sonhos em prol dos sonhos dos nossos – o que, aliás, também é um jeito de sonhar.

Mas talvez sejamos mesmo. Mas isso é algo difícil de explicar. Difícil porque nós mesmas desconhecemos alguns comportamentos.

Li uma vez que carregamos vivências de nossos antepassados.

Ah, que sorte a nossa! Nosso DNA é carregado de muita força e hombridade. Nossa raiz é profunda, respeitosa e muito digna também.

Ah, o dia das mães! Ah, o mês das mães!

Há tanto sentimento aqui dentro, mas você não vê.

Não vê porque não me enxerga; não vê porque nem me olha. Não vê porque nem me nota.

Mas eu, eu continuo aqui.

Envolta por uma casca dura, rígida, firme e intacta, para que assim seja possível resistir e reagir.

Por dentro, meu coração bombeia tanto sangue que é capaz de irrigar meu corpo e o de todos aqueles que de mim precisarem.

Nesse percurso ritmado, regido por acordes ancestrais – como uma escola de samba – e guiado pela agonia do fazer acontecer, a vida vai seguindo.

E a mãe preta vai contornando as adversidades com um sorriso no rosto, a desconfiança no bolso e o coração seguro de si, pois está cada dia mais claro que estamos nesta vida para o outro.

Eu também tenho um sonho: que todas as mães tenham o direito de se libertar das muitas amarras que ainda existem; que tenham coragem de usufruir da liberdade; que consigam se desprender dos seus pesadelos.

Mas, mais do que isso, que as mães pretas possam também desfrutar do descanso merecido e celebrar as conquistas sonhadas por aquelas que vieram antes de nós.

Afinal, para um Feliz Dia das Mães, a protagonista precisa ao menos estar feliz.

Autor

  • Natalia Maria Souza Veloso

    Oiê! Sou Natália Maria Souza Veloso, ou simplesmente Net Veloso.
    Professora há quase 20 anos. Magistério, Letras e Pedagogia. Pós-graduação, mestrado e doutorado em maternidade, rs. Contadora de histórias nas horas vagas! Casada, mãe de 3. Mãe preta de 3. Passei por 4 gestações. Sonhadora! Acredito no fantástico poder da escrita! Ela me libertou! Que minhas linhas atinjam corações; que sejam acalento e coragem; resistência e luz! E que tais linhas tornem- se laços de apoio e que a representatividade se faça viva! Instagram: @netveloso

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