O termo “culpa materna” costuma ser associado a puérperas e mães de criança, fundamentado principalmente na sensação que estas mulheres têm por não atingirem um ideal de perfeição. Mesmo que existam argumentos coerentes demonstrando que não há motivo para esse sentimento de culpa, dificilmente as mães conseguem se livrar do mesmo. Isso é, trata-se de uma culpa autodeclarada por estas mães, de forma involuntária. Entretanto, os filhos destas mulheres, bebês e crianças, costumam acreditar que têm a melhor mãe do mundo, sem nem imaginar que elas podem se sentir culpadas.
Entretanto, esse cenário costuma mudar na adolescência, quando o filho tende a enxergar a mãe como culpada pela maioria dos seus problemas. De forma similar ao que acontece com a culpa que as mães sentem durante a infância dos filhos, mesmo que existam argumentos coerentes demonstrando que não há fundamentos para essa responsabilização, a maioria dos adolescentes acredita sim que suas mães são culpadas por diversas questões. A principal diferença é que, nesse período, a culpa não é autodeclarada pela mãe. Ao contrário, a culpa é apontada pelo filho adolescente. Em ambas as situações, o fardo recai sobre a mãe.
O adolescente pode ser capaz de culpar a mãe por algum fato, independente da conduta que ela tenha adotado sobre o assunto. Por exemplo, se o jovem não tem uma alimentação saudável, pode acreditar que é porque a mãe não o incentivou nesse sentido, ou porque ela o traumatizou com lanchinhos saudáveis enquanto os amigos eram felizes levando guloseimas na merendeira. Se o filho não gosta de acordar cedo, pode dizer que é culpa da mãe que escolheu uma escola que demandava que ele acordasse exageradamente cedo por longos anos, ou pode argumentar que é porque a mãe o matriculou no turno da tarde e assim ele não adquiriu o hábito de acordar cedo. Se a cria não gosta de ler, o motivo alegado pode ser porque a progenitora o massacrava com livros demais, ou talvez porque ela não deu o exemplo sendo uma leitora voraz.
Já convivi com uma mãe que deixava suas duas filhas escolherem suas roupas durante a infância: uma preferia roupas básicas e a outra vivia cheia de brilhos cor de rosa. Depois de adultas, uma critica que a mãe a vestia parecendo um menino, enquanto a outra reclama porque usava roupas exageradamente espalhafatosas. Ou seja, não adianta a mãe dar o seu melhor na criação dos filhos, sempre vai ser possível encontrar um ponto de vista que aponte uma culpa na sua direção.
O fato é que quando nasce um bebê, nasce uma mãe e uma culpa. Essa culpa pode mudar ao longo das diferentes fases da maternidade, mas dificilmente some. Mesmo depois da adolescência, essa culpa pode ganhar novos rótulos para seguir existindo. Afinal, que mãe nunca se questionou se seus problemas não se originam na reprodução de algum comportamento da sua própria mãe, ou na tentativa de fazer o oposto do que sua mãe fazia? Pois é, nem depois de virar avó, a culpa materna costuma ser extinta.