As pessoas ao meu redor acham que me conhecem, que entendem como eu penso e que são capazes de lidar com minha personalidade, compreender meus comportamentos, respeitar minhas atitudes e até me admirar como mulher, como profissional, como esposa. Mas a maternidade…
A maternidade é, na maioria das vezes, lugar de julgamento e solidão. Lugar onde ninguém coloca a mão no fogo por ninguém. Pois a maternidade real é aquela que acontece no secreto e quem está de fora, não pode ver.
Fotos, fatos, fakes não serão capazes de contar da mãe que somos, da que desejávamos ser e sequer da que tivemos. Está lacrado no viver de quem esteve lá realmente, fazendo acontecer. Ainda que se conte, já não é contado como foi. Ser mãe é uma escolha baseada no instantâneo, no que não poderá ser desfeito, do que mesmo lá atrás, fica marcado em nós e nunca será totalmente parte do passado.
A maternidade do jeito que cada uma de nós faz, não deveria, não poderia ser submetida a avaliação de nenhum outro que não a criança, pois é ela, somente ela que conhece a mãe que eu sou, a mãe que você é. Afinal, a mãe é delas.
Ser o filho de alguém é ver um olhar, receber um toque, ouvir uma voz que será só sua, somente para você seja ela doce ou agressiva, pacificadora ou afrontosa. A mãe ficará nas memórias do coração, do corpo, mesmo que não seja possível para o cérebro acessar facilmente e marcará de forma intensa e expressiva quem eu sou, quem você é, quem seu filho será.
É neste ponto que, com um pouco de sensibilidade, passamos a notar o lugar da mãe nessa história que ela mesma escreve palavra por palavra a cada segundo. O nosso lugar é de protagonismo da nossa própria maternidade. Essa posição especial e principal não é da criança, pois essa protagoniza a infância. No maternar, a mulher age e o filho vulnerável em seu desenvolvimento gradual, recebe da mãe aquilo que lhe aprouve ou foi possível dar.
Somos pressionadas a olhar para a criança como a estrela da relação mãe/filho e embora tenhamos mesmo que defender toda a sua necessidade de amor, afeto, atenção, cuidado, investimento… ela é parte de algo que é da mulher como não será de ninguém mais. Ela é a testemunha da verdade dessa relação ímpar.
Antes de ser a “mãe de fulano ou fulana”, você já existia, com qualidades e valores que te caracterizavam e distinguiam de outras pessoas. Isso que te permite se reconhecer e permite aos demais a escolha de se relacionar ou não com você é a sua individualidade, da qual não é preciso abrir mão para ser “boa mãe”.
Optar por deixar as atitudes, amigos e atividades que não se encaixam mais na sua rotina parental, não é o mesmo que abandonar tudo que te constitui como sujeito. Não é preciso ser um novo alguém, principalmente se isso te faz sofrer. É possível ser o mesmo alguém com upgrade, com ajustes, com passado.
Cuide-se, ame-se. O todo funciona melhor se cada parte estiver bem e, nossas crianças, merecem encontrar vida em nossos olhos, merecem encher-se de luz com nossa proximidade. Isso acontece quando lhes damos a conhecer as mulheres que verdadeiramente somos e não somente a sombra do que fomos, pois ainda que imperfeitas, somos mais que mães.