Foi a maternidade que me apresentou à pauta de saúde mental. Até então, na minha vivência, saúde mental era uma premissa tão básica, que sequer precisava ser mencionada. Ter saúde mental me parecia ser algo intrínseco a qualquer ser humano, tanto quanto respirar. No máximo, havia algum relato muito distante sobre alguém com problemas de saúde mental. Não me parecia ser o tipo de problema que poderia acontecer comigo ou com as pessoas próximas de mim. Como se eu vivesse segura numa ilha em que saúde mental era garantida, sem nunca ter me aproximado suficientemente da praia para enxergar o restante do arquipélago.
Ser mãe me mostrou a necessidade de zelar não somente pela minha saúde mental, mas também pela das minhas filhas. Elas são interdependentes, funcionando como dois pilares de uma mesma estrutura. Isso é, um abalo em qualquer uma das duas, tem reflexos diretos na outra, podendo chegar a colapsar todo o conjunto. São indissociáveis.
Após o início da adolescência, é necessário redobrar a atenção com a saúde mental da cria. Tudo o que costuma acontecer nesta fase, pode ameaçar a saúde mental do adolescente. As mudanças hormonais acarretam num desafio significativo. A descoberta da sexualidade, por si só, tende a despertar um turbilhão de sentimentos. Considerando que vivemos numa sociedade heteronormativa e preconceituosa, a descoberta da sexualidade pode ganhar contornos ainda mais complexos. A pressão das redes sociais para atingimento de padrões ideais e irreais não costuma contribuir para a manutenção da saúde mental. A necessidade de pertencimento a um grupo de amigos pode amenizar este caldeirão de emoções, ou não. Além disso, todos esses fatores podem ser potencializados pelo eventual contato com drogas lícitas ou ilícitas. Por fim, o acesso ilimitado a informações viabilizado pela internet pode ser usado tanto para objetivos construtivos quanto para destrutivos. Soma-se a isso, claro, a possibilidade de bullying, incluindo cyberbulling. Em paralelo, ainda é cobrado que o adolescente tenha um bom desempenho acadêmico.
Atualmente, depois de mais de dezesseis anos de experiência na maternidade, saúde mental é uma pauta cada vez mais presente na minha vida. É inquestionável a importância da minha saúde mental durante todas as etapas da maternidade, incluindo gravidez e puerpério, além da necessidade da manutenção da saúde mental das minhas filhas, principalmente após o início da adolescência. Saúde mental é mais do que o feijão com arroz da minha família, é a água que bebemos várias vezes por dia, sob o risco de morte no caso de privação por mais de alguns dias.