Quando eu fiquei cansada, eu disse:
– Basta! Bora, saia da minha barra, já tenho uma criança pra ser cuidada e educada. Você, pessoa adulta, reaja, aja, faça.
Então, eu fiz listas: uma, duas, três, por tópicos, locais, execuções, cronogramas, planejamentos, produções, metodologias.
Logo, eu estava pedindo, depois reclamando, depois insistindo, depois exausta e sobrecarregada, exigindo.
Joguei fora as listas e, com elas, joguei algumas esperanças, porque desistir, minha irmã, é reconhecer que aquilo não serve, é querer mais, é desapegar-se para permitir que o novo se abra. É aceitar-se. Nas limitações, nos erros, nos acertos, continuar se amando, quando já não és também amada, valorizada. É pegar-se e ninar-se, é tocar-se, é dizer-se que tudo bem, tudo bem, errar de vez em quando, senhora deusa humana terrena, imperfeita, podrida, é ‘AMAR-SE’ jodida pero contenta’ (@buika) “fud*, mas contente”.
Aprendendo com @genipapos que há que retirarmos o peso grandioso das relações afetivas sexuais e esbanjar amor onde quer que se esteja – com amigues, plantas, paisagens, borboletas, músicas, e não ficar nessa expectativa falida de depender de uma validação, uma aceitação, uma submissão, uma paixão pra ser amada e reconhecida. É já estar plena e rodeada de amores e afetos sempre, aquela galera que te faz brilhar, e não as que teu brilho ofusque, e queiram tolhê-lo, ou ainda pior: APROPRIAR-SE, gozando fartos de seus próprios privilégios.
Explorando nossa força de trabalho, nosso tempo, nossos corpos-territórios, minam nossa sanidade mental, nos querem caladas, sorridentes, serventes, submissas, servindo e gratas.
“Esclavas de la p*ta manada y mejor q calladita e de piernas abiertas) *escravas da manada de merda, e melhor caladas e de pernas abertas*. (Miss Bolivia, Rebeca lane)
Quando @elisama.santos me diz:
– Há quem serve tua calma?
Eu lembro de Conceição Evaristo declamando que a nossa voz e escreVIVÊNCIA, não é pra ninar os meninos da casa grande, mas pra acordá-los do seu sono INJUSTO.
Então, amores, sustentem a voz de vocês. Aguentem sair do lugar de privilégio na teoria, na prática, e no dia a dia.
Por um mundo onde o patriarcado CAIA, quando houver uns 1000 anos mais da reparAÇÃO que começa EM CASA. Exausta de esquerdistas proclamando direitos pra mudar o mundo, sem dividir os cuidados da própria casa, do feitio de alimento, das crianças, deixando pra gente toda a carga mental, física, crente que dinheiro ou trabalhos de execução são suficientes, e por achar-se suficientes, bons o bastante, vê-los deslegitimarem a nossa voz, a nossa dor, a nossa luta, a nossa vivência pra manter privilégios.
Cansada de gente do bem da esquerda, dispostíssimos a construir banheiros ecológicos, em mutirões de voluntariados ou em movimentos sociais, mas que são incapazes de limpar a casa ou lavar a privada que usam, espontaneamente; ou dos ambientalistas plantando mudas e desenvolvendo projetos, mas matando as plantas da própria casa, ressecadas. As plantas, as mulheres, as crianças. Desnutridas, desvalorizadas, que sem utilidade, são descartadas.
A primeira mudança que a gente precisa é na família.
De dentro pra fora, de fora pra dentro. Mas a revolução é dentro de casa no dia a dia, na parceria.
Estamos em guerra, sim, silenciosas, escandalosas, subjetivas, inconscientes e eficientes.
Sairão, sim, das nossas costas pretas e femininas, por exaustão, e por ouvirmos dizer NÃO!
Assim É.
Avançaremos!
Autora: Rebeca Brayner – @florescerholistico
Revisora: Angelica Filha @angelicaafilha