Mulheres-mães protagonistas da própria história

A pandemia e a relação entre avós e netos pequenos

A pandemia e a relação entre avós e netos pequenos

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Uma de minhas melhores lembranças da infância era que, sempre que eu ficava doente, meu avô ia me visitar. Mesmo não morando muito perto. Mesmo se fosse de noite. Mesmo sendo um avô que ainda trabalhava. Apesar de ser médico, ele nunca fazia nada muito além de recomendar uma consulta ao pediatra. No máximo, um antitérmico para baixar a febre, ou a mesma pomada inofensiva para qualquer tipo de problema na pele.

A lembrança dessas visitas fez com que eu pedisse a companhia dele quando tive que fazer uma cirurgia, eu já adulta e ele com bastante idade. A lembrança dessas visitas fez com que eu desejasse muito a presença dele quando fui para a maternidade para o nascimento das minhas filhas, o que já não era mais possível.

De lá para cá, uma das poucas coisas que não mudou é que as crianças continuam ficando doentes com muita frequência, fortalecendo seu sistema imunológico com enfermidades sem gravidade. Por outro lado, quase tudo mudou e apareceu uma pandemia de uma doença que se mostrou mais perigosa para os idosos e para a qual ainda não há vacinas para crianças menores de cinco anos.

Na prática, isso quer dizer que os avós não encontram mais os netos pequenos de forma segura, a não ser nas raras ocasiões em que as crianças estejam confirmadamente 100% saudáveis. Em todas as outras situações, a criança tem alguma tosse ou indisposição que pode ser suspeita de Covid-19. Para famílias que sofreram perdas, ou quase sofreram perdas, ou precisam lidar com sequelas devido a este vírus, o risco de (nova) contaminação não parece tolerável.

Existem diversas possibilidades para atenuar esse distanciamento entre avós idosos e netos menores de cinco anos, incluindo o uso de máscaras pelos adultos, encontros ao ar livre e a realização de sucessivos testes de Covid-19 a cada vez que a criança tem alguma indisposição (vale lembrar que este teste é bastante desagradável). Ainda assim, o medo de contrair o vírus aumentou a distância intergeracional para diversas famílias.

Por enquanto, é impossível saber qual o impacto desse distanciamento tanto para os netos quanto para os avós. No mínimo, as crianças de hoje não guardarão uma lembrança de infância tão doce quanto a das visitas que meu avô me fazia cada vez que eu ficava doente. As consequências do isolamento social imposto pela Covid-19 vão além do que conseguimos enxergar. Na falta de opção, resta às mães descobrirem alternativas às antigas redes de apoio que costumavam ter os avós ocupando posições importantes.

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