Por: Jordana Micaela de Oliveira – @mae.mundoparalelo
Há emoções que só entendemos ao viver experiências únicas. Assim é a maternidade.
Os sentimentos despertados pela maternidade são complexos e paradoxalmente simples, se resumidos ao amor incondicional.
Já na gravidez sabia que algo estava diferente em mim. Mas foi somente após o nascimento da minha filha que percebi meu mundo se transformar. Era como se a minha vida fosse um livro com dois capítulos: antes e depois de ser mãe. Sendo o momento do parto o divisor de águas.
Por longos meses achei que tudo o que vivi anteriormente à maternidade não tivesse sentido e nem importância. A minha existência neste mundo parecia se resumir apenas em ser uma boa mãe. A sensação de perder-se de si mesma é impiedosa. E ao mesmo tempo em que lutava silenciosamente com a crise de identidade, a culpa e a vergonha por ter esse vazio em meu peito foi avassaladora. Me perguntava: Como posso sentir esse buraco em mim, se meu sonho está aqui em meus braços? Estava vivenciando dias cheios de amor, de felicidade, mas estranhamente uma inquietude tomava meu ser.
As relações sociais também mudaram, mesmo quando estava rodeada de pessoas, era solitário. As conversas não encaixavam e já não tinha mais repertório nem disposição. Eu estava me adaptando ao novo, mas as outras pessoas não. Viviam suas vidas normalmente e foi difícil me inserir novamente no mundo que já tinha sido meu também.
Certa vez, em uma apresentação de trabalho, me questionaram o que eu gostava de fazer, qual era meu passatempo predileto. Todas as respostas que me vinham à mente eram relacionadas ao cuidado com minha filha. Ao gestar outro ser, geramos uma nova versão de nós mesmas, mas só nos
damos conta disso meses ou até anos após o nascimento do nosso bebê.
Adquirimos a habilidade de saber, como num passe de mágica, que algo não está bem mesmo a quilômetros de distância, mas não sabemos como nos reencontrar. Redescobrir-se requer paciência, cuidado, autocompaixão e autoconhecimento. E por mais que amasse, e amo ser mãe, restabelecer a conexão comigo mesma era essencial.
Refletir sobre os próprios pensamentos e sentimentos me ajudaram a entender que o título de mãe vem para somar e não substituir o que fui e o que sou. Me reconhecer é gratificante, faz valer a pena cada pensamento e sentimento vivido. Agora estou confiante em retomar antigos afazeres e aprender coisas novas.
A vida é feita de momentos. E para cada um há uma versão de nós, que colabora de alguma maneira para sermos pessoas melhores no futuro. Ser uma pessoa melhor é fazer do mundo um lugar melhor para os nossos filhos. E esse é o meu novo propósito.
Porque sou mãe.
Porque sou mulher.
Porque isso é ser humana.





