O medo de ganhar peso trouxe pânico ao simples ato de comer. O alimento nutre o corpo e ativa nossos sentidos. É claro que o desequilíbrio alimentar poderá afetar nossa saúde mental. Ou o inverso: nossa saúde mental afetará nossa alimentação…
Os mecanismos que interligam o sistema digestório e o cérebro são complexos; o eixo intestino-cérebro tem sido exaustivamente estudado e as evidências confirmam a importância da Nutrição para a nossa psique e cognição. Assim, o alimento também serve de remédio para a saúde mental. Mas qual tipo de alimento?
Mens sana in corpore sano – mente sã em corpo são. Seria uma invencionice criar uma dieta especial para o cérebro. A dieta que irá beneficiar seu corpo também beneficiará sua mente. Esta dieta será baseada em alimentos in natura ou minimamente processados, bastante variada, e com maior consumo de vegetais em todas as refeições.
Mas, quando o assunto é emocional, nada é tão simples e óbvio. Tão importante quanto O QUE comer, é COMO comer, ou POR QUE, ou QUANDO, e até ONDE. Ao responder ou decifrar todas essas interrogações descascamos as camadas que embrulham nossas refeições, identificando gatilhos que nos levam a escolhas inadequadas que trazem inclusive um sentimento negativo, é o que chamamos de comer transtornado. Manter uma alimentação saudável vai além da escolha dos alimentos nutritivos, é preciso investir no ambiente e no contexto que a comida acontece.
Muitos estudos apontam que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver transtornos mentais, como depressão e ansiedade. E quais são os que alimentos comemos quando nos sentimos tristes, deprimidos? Os alimentos ultraprocessados! Chamamos de confort food – comida de conforto – os alimentos que estão associados ao prazer, e na lista estão os lanches tipo fast food, os doces e guloseimas. Onde estão os sabores de nossas memórias para confortar nos dias cinzas? Para onde foi o cheirinho bom que vem do forno e aquece o peito? E aquela mesa, a louça e as conversas na cozinha que abraçam? As receitas culinárias podem conter tantas emoções e histórias!
As experiências alimentares começam na vida uterina. Os fetos já sentem o sabor dos alimentos que a mãe consome, formando um repertório e delineando as preferências alimentares no futuro. Costumamos oferecer alimentos adoçados ou industrializados logo na primeira infância, atendendo ao apelo da indústria alimentícia e acreditamos que todas as crianças comem biscoitos, balas, bebidas açucaradas, lanchinhos prontos. O tal “paladar infantil” é, na verdade, uma cultura de consumo alimentar inadequado baseado em alimentos produzidos para induzir o sistema de recompensa rapidamente, por serem excessivamente palatáveis (fáceis e bons de se comer). Da embalagem aos aditivos, os alimentos ultraprocessados são direcionados para gerar prazer, sem preocupação com seu valor nutricional e os impactos na saúde e no Planeta.
Usar a comida como conforto pode ser saudável quando:
- comer não causa culpa;
- a refeição é um momento de paz e comunhão;
- preparar uma receita é prazeroso;
- cria memórias e laços afetivos compartilhados;
- escolher alimentos naturais pelo sabor e consciência do quanto seu corpo fica bem;
- as refeições são realizadas com atenção, ativando todos os sentidos durante a mastigação;
- reconhece que manter uma dieta equilibrada é autocuidado;
- ser responsável pelo planejamento, organização e preparo das refeições são tarefas gratificantes.
Em caso de desconforto ou sentimentos negativos em relação ao seu corpo, ou aos alimentos, procure um profissional da área da Saúde. Nem toda dieta se transforma em transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa a partir de uma dieta.