COLUNA | Quando você vê e se identifica, você já esteve ali

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Acabei de ver vários vídeos em que uma blogueira expunha a relação abusiva que viveu com o parceiro. E se você de alguma forma já vivenciou alguma relação abusiva, quando vê esse tipo de vídeo, a única coisa que se passa pela sua cabeça é a identificação e o tanto que aquilo se assemelha a tudo que  passou. Todos aqueles discursos te parecem tão “familiar”, né?

Acredito que se você fechar os olhos até consegue se ver naquele lugar que jamais poderiam ter te colocado, sim, colocado! A culpa nunca foi sua e, por vezes, você chegou até a desacreditar disso.

Depois de sair daqueles vídeos voltei a visualizar os stories e, logo em seguida, outra garota tinha compartilhado o vídeo que vi. No post, ela declarava que, assim como eu, também havia se identificado com a situação. Numa conversa entre ela e eu, nos perguntávamos como conseguimos sair daquela situação, porque a única coisa que passa na sua cabeça, quando você se encontra dentro de um contexto desses, é que aquilo é eterno e nunca vai passar. Que você não conseguirá sair de forma alguma e sua vida está acabada. 

Ou que esse ser abusivo em algum momento, como num passe de mágica, se libertará de todas essas camadas de abusos que compõem sua essência (sim, só quem está perto consegue observar seu comportamento hostil). 

No mais, esse ser usará de sua habilidade manipuladora para te desacreditar perante os que estão por perto, e ele precisa dessa validação de “bom moço” para continuar com seu abuso. 

Mas, se hoje, você me perguntasse como eu cheguei ali, não conseguiria te responder claramente, e talvez você até encontrasse uma “autoculpa” e autopunição no meu discurso embargado pelo choro, com uma voz amena e quase inaudível.

Enquanto escrevo sobre isso, estou olhando meus filhos dormirem e pensando o quanto quero que eles possam ser homens diferentes, que consigam ser amorosos, companheiros, respeitadores e, que acima de tudo, tenham empatia com seus respectivos parceiros.

E não! Não tenho a mínima ideia de como desenvolver esse projeto fora da curva, mas só de ter a clareza disso, já é parte do caminho. Ser mãe de dois meninos me faz questionar muitas coisas sobre que tipo de homem eu “quero” que eles sejam, não só agora, depois de reviver tudo que já passei, mas esse é um pensamento constante. 

Segundo o Mapa de Homicídio de Mulheres Negras feito de 1996 até 2019 pelo IPEA.GOV, os números de homicídios cresceram, e acredite, os números são assustadores. Ser mulher negra e não virar estatística de homicídio é uma das nossas tantas missões de vida e, às vezes, quem a gente acha que poderia chegar para agregar e somar, chega para tirar nosso sossego e até nossa vida.

Texto revisado por Daiane Martins.

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