Mulheres-mães protagonistas da própria história

O sobrenome de todas as mães do mundo 

O sobrenome de todas as mães do mundo 

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Dia das mães passou há pouco e ninguém me deu o título de mãe.
Como, invariavelmente, tudo na vida de uma mulher nem a maternidade vem de graça.
Das muitas mentiras que nos contam, aquela que diz “nasce um filho, nasce uma mãe” é a mais insana. Gerar, parir, adotar é só o começo desse emaranhado de fios, emoções, medos, instintos e alegrias que se entrecruzam num bordado que, vou te contar, não dá pra olhar o avesso.
Não, ninguém me deu esse título. Nenhum dos meus dois filhos me deu.
Eu bordei, e tenho bordado, essas trilhas do maternar desde antes de tê-los.
Desde antes de chorar no chão do banheiro.
Desde antes de pensar onde foi que amarrei o meu cavalo.
Desde antes do adeus na janela com um coraçãozinho feito com as mãos.
Desde antes do “deita um pouco comigo, não consigo dormir”.
Desde antes do “tu é a mãe mais bonita da escola”.
Desde antes do bailinho que fazemos, eu e tu, sozinhos na cozinha.
Desde antes do colchão mijado. Do meu colchão mijado.
Não se iluda! Uma mulher só se torna mãe marinada em muita vontade boa e em muito levanta pra cair de novo.
Não se iluda e não se apavore. O susto vem com tudo te tirando o chão, o ar e a lucidez, mas ele também vai. Traz o susto pra luz. Coloca um sol nessa trilha; nessa trilha e nessa pele.
Porque maternar é sempre sobre tocar: pele com pele, medo com medo, sonho com sonho.
É afeto e intuição em doses exageradamente generosas.
E repara bem, é o modelo penélope de ser: tece, borda, costura de dia e desmancha tudo antes de ir pra cama, pra amanhã pegar novamente nas agulhas e acertar o ponto.
Porque o sobrenome de todas as mães do mundo é recomeço.

Autora: Letícia Chaplin – @leticiachaplin.
Texto revisado por Daiane Martins.

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