COLUNA | Não adianta bater palmas para os profissionais da saúde, se os da limpeza, são vistos como inferiores

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Ontem foi o primeiro dia da quarentena em que senti medo. Não por mim (que estou no conforto do meu lar, quentinho, com alimento, afeto e paz). Senti medo pelas pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e não têm a quem recorrer.

O Coronavírus trouxe a muitas pessoas a necessidade de ressignificação da relação com os filhos e a família, mas quem ressignifica a miséria e a pobreza? 
Não adianta bater palmas para os profissionais da saúde, se os da limpeza, ainda são visto como inferiores. Ou que, em meio ao caos, ainda não conseguiu enxergar que no Brasil a população mais afetada tem classe social e cor. 

O meu medo é de que as pessoas não consigam ler as entrelinhas em meio a pandemia. Que elas não consigam enxergar o “convite compulsório” que o Universo nos faz, para o debate sobre classe, gênero e raça. 

Estamos todos distantes nesse momento, mas para as mães solo, as mulheres em situação de vulnerabilidade social e as mulheres pretas, esse distanciamento sempre existiu através da invisibilidade.

Eu, enquanto mãe solo e mulher preta, tenho medo que a gente esqueça tudo o que foi vivido até aqui, medo que a gente saia exatamente como entrou. A legitimidade do meu medo se mostra no apagamento da nossa própria história e nos desdobramentos que esse apagamento causou no inconsciente coletivo.

Autor

  • Thaisa Cipriano

    Mãe em construção, feminista negra, escritora da minha própria história. A escrita, para mim, é resistência e cura."

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