Minha filha, Moana e Eu

gabriela muriano

Nos últimos dias, minha filha entrou no “modo repete” com as músicas de Moana. Ela já tinha assistido ao filme há alguns meses, mas agora revive cada canção como se fosse novidade, cantando sem parar, como quem redescobre algo essencial. E, como mãe de uma criança pequena, sou automaticamente convocada a cantar junto. No começo, confesso que não dei muita atenção. Mas quando a mesma música ecoa quinze vezes ao dia, algo começa a se transformar. Sem perceber, vou aprendendo a letra. E então, em algum momento, sou atravessada pelo que aquelas palavras dizem, como se a melodia abrisse espaço para outra escuta.

A história de Moana é, sobretudo, uma história de travessia. Uma menina que nasceu e cresceu em sua ilha, conhecendo cada detalhe daquele espaço, sabendo exatamente qual era seu lugar. Sua história parecia já estar escrita: ela deveria ficar. Seu povo precisava dela ali, cumprindo a função que lhe cabia. Mas havia algo em seu coração que não se encaixava. Um chamado insistente que vinha do mar – vasto, perigoso, desconhecido. Ela tentava ignorar, tentava se manter fiel ao que era esperado, mas, no fundo, sabia que não podia. Porque existem vozes que, por mais que tentemos calar, nunca se silenciam por completo.

E eu me pergunto: quantas vezes nos sentimos assim?

Quantas vezes nos disseram onde deveríamos estar, o que deveríamos fazer, quem deveríamos ser? Quantas vezes desempenhamos com disciplina o papel que nos foi dado, enquanto uma parte íntima de nós apontava, insistentemente, para outro caminho? É como se houvesse sempre uma fissura entre o que esperam de nós e aquilo que realmente pulsa dentro.

Moana me lembrou que essa travessia é árdua. Requer coragem para abandonar a terra firme, deixar para trás a aparente segurança e remar em direção ao incerto. Mas, ao mesmo tempo, ela revela que há algo de profundamente transformador nesse processo. Porque, no fim, não se trata apenas de descobrir o que existe além do horizonte. Trata-se, sobretudo, de descobrir quem somos ao nos lançarmos à aventura.

E enquanto observo minha filha cantar com tanta entrega, percebo que, de certa forma, também estou atravessando um oceano.

A maternidade me transforma todos os dias, me convida a escutar a mim mesma, a rever meus próprios passos, a reconhecer minhas próprias travessias. E, no fundo, tudo o que desejo é que ela nunca se esqueça de fazer o mesmo. Que, seja qual for o caminho, sua voz interior seja sempre sua bússola.

Por Gabriela Muriano Asmé – @psigabrielamuriano

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