O meu primeiro dia das mães, e agora, sim, faz sentido que eu receba um “feliz dia das mães!”
Eu ainda não tenho em mim a identidade de mãe. Mas, quando essa identidade chegar, quero ser uma mãe longe do “ideal e dos ouço e me falam”. Eu quero ser uma mãe conectada com o meu tempo e para além dele. Ser uma mãe do futurista! Sem nenhum tipo de idealização sobre mim e este processo. Afinal, a quem serve a idealização da maternidade?
Dizem que cada mulher vive essa experiência de forma única. Penso que é verdade, porque mesmo com toda amorosidade que carrego, eu não consigo escrever sobre isso de uma forma romântica. Esses dias, lendo sobre experiências de mães na política, vi uma companheira que admiro escrever de forma crítica e romântica ao mesmo tempo, e fiquei me questionando “por quê a necessidade de reafirmar esse amor a cada parágrafo, ou por quê redimensionar essas experiências colocando o amor como algo central? Por isso, penso que a geração de um filho (a) deve se manifestar de uma maneira muito diferente em cada ser humano mesmo.
Nesse processo, eu acredito na transformação e num amor inabalável. Acredito na mudança de rotina e de prioridades, mas não acredito em quem vem me dizer: “no ato do parto morre a mulher que existe e nasce uma nova mulher, uma mãe”. Não acho que seja justo, nem que possa existir sentido em deixar de ser quem sou. Não entendo a maternidade como algo inato das mulheres. Não creio na ideia de que ser mãe é uma conquista mais importante do que qualquer outra, também não acredito que a maternidade traz uma sensação de completude para nós.
No início da gravidez, eu tive medo de que o fato de ser mãe fosse me tornar, automaticamente, uma outra coisa. Parecia que eu estava sendo levada para um planeta diferente. Um mundo meio já preparado, cheio de frases clichês, comportamentos ensaiados e um monte de gente dizendo “já vivi isso e foi assim, então só lhes cabe reduzir-se a isso e seguir …” Mas, algumas coisas eram absurdas, cobertas de romantismo e de pouca materialidade que fui enxergando que se tratava muito mais de uma realidade aparente, de coisas questionáveis e ultrapassadas do que certezas inabaláveis que deveriam ser absorvidas por mim.
Na real, a visão das pessoas sobre a maternidade é muito cafona e limitada, e mesmo que vivam reproduzindo que é uma experiência única, geralmente as pessoas falam da maternidade como algo que pode ser traduzido numa cartilha e seguido igualmente por todas.
Ainda há muito por saber, muita realidade para apreender, “ainda vou ver coisa”, mas, a cada dia, só aumenta as minhas convicções sobre o que penso e o quanto a sociedade precisa ressignificar a sua forma de enxergar e tratar as mães.
Meu desejo de mãe é que tenhamos mais espaço e poder, para que possamos exercer as nossas múltiplas identidades, não só a de mães, para que sigamos esta vida podendo SER MAIS. É isso que eu desejo para nós, mães militantes e as mães trabalhadoras! Que tenhamos fardos mais leves e uma vida inteira de liberdade para viver.
Por Dalila Calisto – @dalilacalisto
Revisora: Angélica Filha