Coluna – Conceição

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“Conceição”, palavra do gênero feminino, do latim ‘conceptio, -onis’. Segundo o dicionário: “Concepção, início”. Sinônimo de criação, geração. Ou ainda “pessoa racional e objetiva”. Nesse Dia dos Professores, por que não homenagear alguém? Difícil escolher.

Com a graça de Deus, pela minha trajetória, tive algumas professoras-mães que fortaleceram meu alicerce. Digo mais: que adubaram no coração da adolescente, quase jovem, a semente do professorar.

Cida, Aparecida. Conceição. Era assim que a chamávamos. No auge dos anos 2000 (2002-2004), minhas aulas de História, no curso de Magistério, eram inundadas por um tal de Mandela e o apartheid. Assim como os pescadores, de início, nada parecia fazer sentido. Por que será que ela insistia tanto?

Ah, Cida! Como eu quero ter a chance de te reencontrar e dizer o quanto sou grata pela contribuição fundamental que tiveste em meu ser. Sua insistência em um assunto tão importante, mas que ninguém tocava ou dava crédito, fez com que hoje, sua jovem aluna, agora professora há 20 lindos, tortuosos e prazerosos anos, valessem a pena.

Enfim, tornei-me professora. Depois, maternei. Conciliar a rotina de trabalho escolar, da jovem professora-mãe preta ou mãe-preta professora, ou ainda professora-preta mãe, exigiu de mim a força de Malcom, o amor de King e a sabedoria de Mandela.

Conceição, ah, Aparecida! Conceição, Evaristo! Três mulheres negras que, de diferentes formas, iluminaram o caminho de tantas outras. Junto a Deus, os santos e orixás, nos emerge na fé que não há de falhar, oxalá!

De que cor eram os olhos mesmo? Aqui me vem à mente os Olhos d’água, de Conceição Evaristo. A cor dos olhos pouco importa; a cor da pele sabemos bem qual é.

Da favela para o mundo, para sempre ecoará a voz que deu voz a tantas vidas por séculos silenciadas. A voz que, ora tímida, ecoa e ensurdece; clama e agradece pela força da ancestralidade dos reinos apagados.

Conceição, você é inspiração. De suas escrevivências pude afirmar a minha existência.

Enfim, a oportunidade chegou. Antes tarde do que nunca! Insista! Persista! Resista, professora! Muito mais que um convite, é uma conversa.

Mais que uma palestra: ouvidos atentos, olhos fixados, corações abertos.

A luta é antiga e a ação, enfim, chegou. Consigo ver, enfim, a luz no fim do túnel (ou, no fundo do poço). De invisível a essencial: você tem muito a oferecer. Acredite, professora! E você merece estar onde está! Lutou muito por isso!

Eu também tenho um sonho!

Sonho com o dia em que nossos pretinhos (crespos, cacheados, ondulados, encaracolados, carecas, armados ou lisos), nasçam, vivam e ressignifiquem com grandeza e maestria a negritude que transcende e brilha na pele preta.

Que tenham a autoestima inabalável e que ousem sonhar.

Que trabalhemos não só por uma lei (mas já que ela existe, que seja pelo menos por isso).

A vocês, queridas educadoras: pretas, pardas, brancas, indígenas, mestiças, estrangeiras, mães. Mães dos seus, mães dos outros, mães dos meus, mães dos nossos, mães de todos. A todas vocês, gratidão!

Viva, Conceição! Aparecida!

Feliz dia, professores!

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