Ser mãe enquanto eu colava meus pedaços foi a tarefa mais difícil que enfrentei na vida. Eu não sabia lidar com o que sentia, eu não sabia o que seria dali para frente, mas a mãe era eu. Quem dava o Norte, quem apontava a direção era eu.
Estávamos quebradas, partidas, inseguras, com medo e assustadas, mas precisávamos seguir. Tantas noites eu chorei calada, quantos sorrisos eu dei com a garganta entalada, quantas vezes me sentei e brinquei para fugir da dor que me assombrava.
Muitas vezes eu não soube o que fazer, eu não sabia o que dizer, mas eu fiz e eu disse. Eu consegui, eu encarei dia após dia. Me tornei paciente em meio a tormenta.
Eu venci a dor usando esse nosso amor.
Eu fui barco, mesmo na tempestade e no mar agitado. Ainda assim fui muitas vezes julgada, questionada e invalidada no meu papel. Mas eu segui, eu enfrentei, eu banquei e banco todos os dias o preço de me escolher.
O preço de me tornar para vocês a minha melhor versão, a mulher que tem decisão, que não foge da luta, mas que nunca entra na guerra.
Para vocês eu tenho o meu melhor papel, eu sou real, não sou perfeita, não sou guerreira, não sou mulher maravilha, sou apenas eu.
Uma mulher que se fez inteira, que colou cada pedacinho em silêncio, que mesmo depois de ter sido partida em muitas, não partiu e não feriu, apenas se refez e seguiu.
Um dia talvez a gente entenda a razão de todos os porquês que nos fizemos. Hoje eu sei o quanto foi difícil ser mãe durante todo o meu caos, mas eu também sei que foi sendo mãe que eu venci a escuridão, achei a luz e me reergui todas as vezes.
Foi o amor de mãe que me curou, me transformou, me renovou, me incentivou e me mostrou que quando existe amor, tudo é possível. É esse amor que todos os dias me encoraja e me ensina que é bom amar.
É esse amor que me faz acreditar que vale a pena amar de novo e de novo, porque tudo pode ser melhor hoje, amanhã e depois.
Por Leliane Ribeiro – @liliribeiro.escritora