Mulheres-mães protagonistas da própria história

Sobrevivendo um dia de cada vez

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O peso da culpa de ter aceitado a pessoa errada na minha vida está me consumindo, e ver que as consequências não serão vividas apenas por mim, é insuportável.

Começo esse desabafo sem saber como organizar todos os pensamentos que vem assombrando a minha cabeça. Eu amo minha filha, amo mais que a mim mesma, ela ainda está na minha barriga, eu estou no ápice do meu desespero, são 32 semanas de uma luta diária para que ela não sinta o quanto eu estou no fundo do poço.

Depressão na gravidez? Eu não me autorizo a aceitar essa condição, como eu poderia enfrentar tudo, ser uma boa, se eu estou doente? Eu não posso desistir de mim, porque nem mesmo meu corpo é só meu, eu não respiro só por mim, meu coração não bate só por mim, mas eu já me sinto morta. 

Eu tenho um pai maravilhoso, uma mãe incrível, e eu sonhei que eu teria uma família assim também, agora eu me sinto traindo a confiança deles, eles não falharam, eles me amam tanto quanto eu amo a vida que carrego dentro de mim, e eles vão sofrer quando descobrirem que eu vivo uma farsa.

Estou em um relacionamento abusivo a 5 anos, 1 mês e 18 dias infernais, eu não consigo aceitar que sou uma vítima, eu não me perdoo por ter deixado ele me destruir, eu tinha sonhos, e eu estava conseguindo realizar, eu tinha amigos, eu tinha uma vida social, e eu era feliz, ele me roubou tudo, aos poucos, foi tão sútil, foi para me proteger, foi porque ele me amava, era o que eu pensava, eu abri mão de tantas coisas, que não final não sobrou nada.

Mas eu sou privilegiada, uma garota padrão, família estruturada, ensino superior pago pelos pais, aluna laureada, morando sozinha na capital desde os 17 anos sem nunca ter tido um trabalho de verdade, segunda faculdade quase finalizada, pós graduada, várias extensões de cursos, 10 anos de curso de inglês, a lista de privilégio é bem longa, e como eu vim parar aqui? Eu era tão promissora, eu era boa, eu era focada, e eu me apaixonei, não sei como sair desse buraco, cada dia que passa eu sinto os meus pés mais longe do chão, não sei por quem, ou pelo que eu estou sendo levada, mas eu não estou vivendo, estou morrendo lentamente.

É um terrorismo emocional todos os dias, eu quero vocês, eu amo vocês, vocês duas já são a minha vida, ele diz isso, depois de me deixar sozinha após uma internação por rompimento de bolsa rota, eu estava pronta pra ser mãe solo, eu finalmente tinha entendido que era o melhor pra minha filha, eu já tinha juntado os últimos vestígios de forças que me restava, e eu ia enfrentar tudo por ela, tudo foi por água a baixo na mesma noite aconteceu, perdi tanto líquido amniótico, eu fiquei apavorada, e eu estava só, porque ele estava fazendo o que faz de melhor bebendo, e me deixando sozinha quando eu preciso de ajuda.

As palavras da minha médica foram “vamos segurar o quanto for possível, repouso absoluto, monitoramento de infecção, provavelmente você vai ficar internada até ela nascer”. Eu só pensava, com quem? Quem vai me acompanhar? Como vou lidar com isso? Como vou fugir agora? Como vou salvar a mim e a minha filha desse homem, se não posso levantar da cama sozinha sem colocar ela em risco?

É assim que eu estou agora, eu tive alta, mas as recomendações são as mesmas, preciso voltar ao hospital a cada 3 dias para monitorar alguma possível infecção, e acompanhar a minha bebê, ele está tornando isso ainda pior, eu não posso fazer nenhum esforço, mas tudo que eu peço pra ele, ele faz questão de fazer de maneira humilhante, ele demonstra o tempo inteiro como sou um peso para ele, e quando eu peço pra ele me deixar ir, quando eu imploro pra ele deixar eu ficar com meus pais, ele não permite, ele não me bate, mas o que ele faz é ainda mais doloroso.

Estou sobrevivendo um dia de cada vez, até minha filha nascer vou ter que continuar suportando todas as humilhações, mas quando ela estiver nos meus braços, eu sei que eu vou ter força pra enfrentar o mundo inteiro, me agarro na esperança de que esse amor vai me salvar.


Relato anônimo.

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