Mães Paralelas (2021) de Pedro Almodóvar, um filme só para dizer de tanta coisa! Não será num único texto que vou dizer de tanto filme.
Mesmo tendo essa certeza, acho que vale a tentativa de pelo dizer alguma coisa sobre a obra, seja para contemplar a sua existência ou indicar para aqueles que ainda não viram.
A maternidade sempre presente nos filmes do diretor/roteirista também aparece aqui para abrir os olhos – em meio a tantas cores vibrantes – sobre sexualidade e gênero, conceitos de família, rede de apoio e ancestralidade.
A escavação que serve de enredo e horas parece perder lugar no protagonismo da história, é linha condutora do filme mas também me serviu como símbolo do processo de análise e da maternidade.
Em ambos os processos, adentramos na imensidão escura e assustadora do que antes era desconhecido. A angústia sempre presente de quem ainda não deu nome ou trouxe luz aquilo que se sente, mas ainda não conhece. As sombras enterradas pela história, a vida aterrada com o passar do tempo, dos danos e das pressões, se fazem presente um pouco desformes, mas dominadoras. Tanto se tem abaixo da terra. O que não é tocado pela luz, que nos assombra, o passado que se repete numa tentativa de existir mais uma vez, assim a nossa ancestralidade é desenhada no filme.
O que deveria parecer tão íntimo aparece como estranho. Um intimidador desconhecido dentro de nós, habitando a nossa história. E é assim como na obra, escavando, que conseguimos chegar em algum lugar. Reconhecendo nomes, datas, formas, coletando material que facilite nesse processo que é árduo e demorado, mas também potente. No filme, mulheres criando mulheres, juntas na tarefa de perpetuar a força, corrigir o passado, conhecer o que devora, reconhecer o que são diante dos que já foram. O passado sempre encontra forma de se fazer presente.
Seja na análise, na maternidade, no filme, todas são possibilidades de escavação e reconhecimento.
Mães Paralelas (2021) concorreu a duas categorias no Oscar e está disponível na Netflix.
