A parentalidade refere-se à função de criar e educar crianças e adolescentes, envolvendo não apenas mães e pais, mas também avós, tios, cuidadores, educadores e a sociedade como um todo. O termo tem origem na palavra inglesa parenting, que designa a relação de cuidado entre adultos e crianças sob sua responsabilidade. Essa relação inclui garantir a sobrevivência e o desenvolvimento saudável dos filhos, abrangendo aspectos físicos, emocionais, sociais e cognitivos.
Existem diferentes estilos parentais, cada um com suas particularidades. Um dos pontos mais relevantes, nesse contexto, são as escolhas que os cuidadores fazem ao educar, como o uso de punições ou recompensas. Em 2024, a Lei nº 14.826/2024 trouxe uma importante inovação ao instituir a Parentalidade Positiva e o direito ao brincar como estratégias intersetoriais para prevenir a violência contra crianças.
O que é Parentalidade Positiva?
A Parentalidade Positiva rejeita tanto a punição quanto a permissividade excessiva, priorizando o diálogo, a escuta ativa e o estabelecimento de limites em conjunto. Esse estilo parental baseia-se no respeito às crianças e adolescentes, reconhecendo que estão em processo de desenvolvimento e necessitam de orientações gentis e firmes para compreender o mundo e seu papel nele.
O Direito ao Brincar e o Brincar Livre. O brincar é essencial para o desenvolvimento infantil, contribuindo para a aprendizagem de importantes habilidades:
- Habilidades sociais (interação com outras crianças);
- Resiliência (aprender a lidar com frustrações);
- Autonomia (definir objetivos e tomar decisões).
O brincar livre, conforme a lei, é aquele em que as crianças têm liberdade para explorar, sem interferência constante dos adultos. Isso não significa ausência de supervisão, mas, sim, um acompanhamento encorajador, que fortalece a confiança, a criatividade e a autonomia.
A aprovação e a sanção dessa lei nos convida a repensar práticas educativas:
- Como queremos educar as novas gerações?
- Nas famílias, a quem recai a total responsabilidade pela criação dos filhos?
- Sabemos educar sem punições ou recompensas?
- Permitimos que as crianças participem das decisões, oferecendo escolhas limitadas?
- Estamos emocionalmente disponíveis para ouvi-las?
Essas questões são centrais na Educação Parental, um processo que orienta famílias na busca por uma educação não-violenta e emocionalmente saudável. Profissionais como Educadores Parentais, Psicólogos, Pedagogos, auxiliam nesta jornada, promovendo espaços de reflexão sobre:
- Auto-observação (como reagimos aos comportamentos dos filhos);
- Autoconhecimento emocional (identificar e gerenciar nossas próprias emoções).
Estudos mostram que a consciência emocional dos pais é fundamental para que se tornem guias emocionais para seus filhos, capazes de acolher, acalmar e orientar.
A Parentalidade Positiva e o direito ao brincar representam um avanço na proteção infantil, incentivando relações familiares mais respeitosas e empáticas. Criar os filhos não é apenas responsabilidade da família, mas também do Estado e da sociedade, que devem garantir políticas públicas que fortaleçam esses princípios.
Para que as famílias – especialmente as mães – desenvolvam as habilidades necessárias para a Parentalidade Positiva, é fundamental que a sociedade e o Poder Público assegurem uma rede de apoio bem estruturada. Essa estrutura é essencial para promover a Educação Parental e garantir que a criação de crianças e adolescentes respeite plenamente seu desenvolvimento humano. Enquanto esse cenário ideal não se concretiza, continuamos disseminando informações e reflexões, na esperança de alcançar o maior número possível de lares.
Que possamos, cada vez mais, refletir sobre nossas práticas e buscar uma educação que priorize o diálogo, o afeto e o desenvolvimento pleno das crianças.
Bibliografia:
– PAVAN, Caroline; SHAVITT, Ilana: “Análise do comportamento aplicada à infância, adolescência e parentalidade – Reflexões sobre as intervenções voltadas para a parentalidade na clínica com crianças e adolescentes; Boletim Paradigma, Instituto Par Ciências do Comportamento, São Paulo, vol. 18, agosto de 2023.
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– Página Portal gov.br acessada em 28/03/2025
– Texto da Lei 14.826/2024 – Página acessada em 28/03/25
Link: https://www.in.gov.br/web/dou/-/lei-n-14.826-de-20-de-marco-de-2024-549316819
– GOSTTMAN, John, Dr., Instituto Gottman – “Os quatro estilos de pais”
Link: https://www.gottman.com/blog/the-four-parenting-styles/
– PERRY, Philippa – “O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido – e seus filhos ficarão gratos se você ler” – citação de trecho da obra publicada na revista Vida Simples, edição de março de 2025.
MORAES, Madson de – O que diz a lei de parentalidade positiva e direito ao brincar? – publicado em 02.04.2024
Link: https://lunetas.com.br/o-que-diz-a-lei-de-parentalidade-positiva-e-direito-ao-brincar/
GATTI, Luciana, RODRIGUES, Bete, FLORES, Marilena – Live:” Lei nº 14.826/2024, que institui a parentalidade positiva e o direito ao brincar.”