Como criar meninas em um mundo à mercê de talibãs?

Como criar meninas em um mundo à mercê de talibãs?

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Começo esse texto com a frase de Audre Lorde: “Não serei livre enquanto alguma mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas.”

Nós mulheres estamos vivendo o pesadelo do retorno do Talibã no Afeganistão, e mesmo sendo quase 14 mil quilômetros de distância de nós, e estando separadas, seguimos com o coração e a cabeça sobrevoando em pensamento as 30 horas que nos afastam, além de sentirmos uma enorme sensação de impotência por sermos apenas mais uma, de tantas mãos atadas.

O que hoje acontece no Afeganistão nos choca e nos amedronta, como que um país depois de tantos avanços retrocedeu 20 anos do dia pra noite? Como que faz para explicar para as meninas e mulheres que até junho deste ano estudavam, trabalhavam e se vestiam com certa liberdade que hoje não se tem mais esses direitos e só podem sair acompanhadas de um parente homem, de burca ou que a qualquer momento podem se tornar escravas sexuais dos fundamentalistas islâmicos?

Que mundo é esse onde quem paga a conta do extremismo, radicalismo e retrocesso são sempre as mulheres?

No Brasil, desde 2018, vivemos com medo. Medo de um golpe à democracia, de uma política que comemora e nostalgia a ditadura, período esse que milhares de mulheres foram estupradas, violentadas e mortas. Medo da “bolsa estupro” que além de limitar os nossos direitos em relação ao aborto, também determina que uma pensão seja paga em casos de gravidez decorrente de estupro. Medo de um governante que defende o trabalho infantil, mesmo sendo uma das situações mais graves do país, tendo crianças de 5 a 17 anos que resulta em um número aproximado de 2,7 milhões segundo o IBGE, trabalhando ao invés de estarem brincando e estudando. Medo dos altos índices de violência contra a mulher que aumentou 40% na pandemia do último ano.

Dito tudo isso, ainda paira sobre nossas vidas a angústia: Como criar meninas em um mundo à mercê de talibãs? Como ensinar para elas que sempre devem comemorar os avanços que tivemos, lutar por mais igualdade e ao mesmo tempo estarem preparadas para perderem tudo da noite para o dia? Ser mulher e criar meninas em um mundo que não nos aceita com direitos iguais é um desafio e tanto!

Minha solidariedade como mulher, mãe e ativista pela igualdade de gênero a todas as meninas e mulheres que nesse momento sofrem pelo simples fato de termos nascido ou nos tornado mulheres.


Autora: Francyelle Bonaci. Mãe de duas, feminista, política, estudnte e empresária. Instagram e Twitter: @franbonaci.

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