E começo o texto já tacando pergunta desafiadora. Aposto que as crianças dormiram e você tá pronta pra começar mais uma leva de demandas, vencendo só na base de muita dr0g4 pesada, CALMA, tô falando de café.
Quando se tem crianças atípicas, com muita necessidade de suporte (como as minhas), não fica pra depois que elas dormirem só o que é demanda pessoal da mãe, ficam outras demandas: a casa, a escola, os outros filhos, o relacionamento com outro adulto. Enquanto estão acordadas estamos presentes para dar os suportes necessários, cuidar, levar em terapias, e principalmente: vigiar. Eu brinco que meu modus operandi com elas é de incentivar a autonomia vigiada. Isso é a maternidade atípica: contradições diárias para serem vividas sem muito pensar.
Sabe o que é? A maioria das nossas crianças tendem a ter comportamentos compulsivos e nenhum controle inibitório (aquele que te para pra não fazer coisa errada). Aquela questão de criança ser curiosa e exploradora do mundo? As nossas são ao quadrado e não tem medo ou noção de perigo, o pior mesmo é que a maioria não sabe comunicar algo que acontece fora do nosso alcance parental. Elas se machucam, ficam tristes, precisam de algo e não comunicam. Autonomia vigiada: ensino a fazer, mas fico o tempo todo olhando de longe pra não se machucarem, não gastar tudo que tem na geladeira, ou quebrar uma perna.
Verdade seja dita: posso ser um tanto neurótica, estou há anos sempre em alerta, passei a acordar com o som da cortina de bambu que estrategicamente coloquei na porta do quarto delas, quase sempre tudo o demais da minha vida acontece quando elas dormem.
Percebi que precisava respirar e fazer as coisas sem ser de noite, porque não sei você, minha cara leitora, mas eu simplesmente não posso mais viver assim. A roupa vai acumular, a casa vai ficar bagunçada, não irei mais a supermercado (vai ser via app mesmo) e todo tempo que estão com outras pessoas cuidando delas eu vou fazer algo que não seja vigiar. Tento todo dia ser a mãe que depois que as crianças dormem vai dormir também, e às vezes até a que vai pra balada, respiros né?