Mulheres-mães protagonistas da própria história

Ciclos

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O dia de ontem pré-anunciava, misteriosamente, este momento.
Ontem, cheguei ao meu limite, no limite real…
E perdi, aprendendo a perder, posso dizer!
Não tive forças para segurar nada, minhas mãos e olhos doíam.

Minha criança nunca foi boa em competições, cansava rápido, encontrava logo outras maneiras de ser feliz sem precisar, necessariamente, ganhar ou perder, apenas viver!
Fuga? Talvez.

Quando Odara completou nove meses, no dia 07/01, eu senti muita cólica, e ela caiu da cama, pois é, presentes que a vida dá.
Passei sete dias seguidos sentindo meu útero contando outra nova história, e eu o escutei. Meu corpo, sempre muito generoso, já anunciava as aberturas de portais.
Bem-vinda!

Completei um ano e meio sem menstruação.
Ontem, completei nove meses sem chorar.
Antes disso, chorei, chorei, chorei pela dor do outro, pela minha dor, por não entender bem como me acolher, como ser acolhida por outres, e como pude – do jeito que podia – me acolher também!

Ontem, escrevi um livro aos prantos… ele iniciava assim: “Em carne viva, sangro…”
Ontem, me vi numa encruzilhada, tirei uma carta e ela falava sobre todo o meu sentir.
Derramei!

Às nove da manhã, sentei na bacia e registrei esse momento, meu corpo entrou em estado de suspensão.
Que susto! Que alegria! Eu estava menstruando em plena lua nova…
“Ah, que saudades de mim!”, pensei.
Não me envergonho do sangue, pelo contrário, gosto mais é de dividi-lo, sinto que é o corpo se abrindo, permitindo ir e vir; abrindo espaços.

Ontem, corri para ver o céu. A parede branca do terraço refletia uma cor que nunca mais havia visto, uma cor que gosto muito, que saudades deste céu.
Esse céu já anunciava o dia de hoje, ele dizia que a encruzilhada sempre mostra um caminho, e que no tempo certo saberei escolher, no tempo do coração.

O portal foi aberto, estou no marco zero.
Os ciclos e ritos são imensidão, grande oportunidade para conexão.
Eu poderia não mostrar meu sangue, mas não posso esconder minha natureza selvagem, e você, muito menos, fingir que ela não existe.
Minha criança não é boa em competições, mas ela está aprendendo a se defender e estou muito orgulhosa dela!


Texto: Natalie Revorêdo – Instagram: @natalierevoredo.

Revisado por Daiane Martins.

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