Foi em um dia de terça-feira que a pequena menina nasceu de uma forma surpresa e triunfante. Ninguém sabia o sexo deste pequeno ser, até o momento exato do seu nascimento.
Casei aos trinta anos com um homem de quarenta e oito, no ano de 1997. Minha mãe era arredia ao nosso casamento, mas mesmo sendo uma filha obediente, casei. Não planejava filhos tão cedo, nunca fui muito fã de criança, isto pelo fato de ser a filha caçula, não tive contato com irmãos mais novos. Nem planejava filhos um dia, mas inesperadamente engravidei na lua de mel para surpresa minha e de todos ao meu redor. De início entristeci. Pensei: minha vida toda vai mudar. E realmente mudou. Depois que nos tornamos mãe, nada mais é igual.
Comecei com o pré-natal certinho. Já planejava a chegada da pequena. Foi tudo à moda antiga. Nunca fiz ultrassonografia para descobrir se era menino ou menina. Apostava que seria menino. Todos diziam: será menino e assim eu acreditei. Segui com o enxoval unissex. Tudo era nas cores verde-claro, branco e creme. Independentemente do sexo do bebê, usaria estas cores neutras
Ao se aproximar o nono mês, comecei a sentir medo do momento. Eram vários medos, dentre uns, o de ter meu/minha filho/filha trocado (a) como em muitos casos. Coloquei em minha mente que focaria em algum traço marcante para ter certeza que não seria trocado (a).
Chegado o dia dez de março de mil novecentos e noventa e oito, parti para a maternidade, sem sentir nem um prenúncio de parto, mas precisei ir devido à pressão arterial que só subia. Fui e precisou ser feito uma cesariana. Gostei. Tinha medo de parto normal. Dizem que a dor é grande! E quando os médicos e enfermeiros terminaram de trazê-la ao mundo e me mostraram, coloquei meu plano em prática: “preciso marcar algo”! Foi uma surpresa sem igual. – É uma menina! Falou o médico. – uma menina? Não é possível! Eu falei.
– Sim, veja! E me mostrou. Logo eu fixei os olhos e marquei o nariz. Igual ao da nossa família. Chatinho. Seguimos com os procedimentos e viemos para casa.
Nunca mais minha vida foi a mesma. Um presente que nunca imaginei ganhar.
Hoje, moramos só nós duas em uma casa, que ficamos perdidas dentro. Há um anos e três meses perdemos nosso apoio masculino. Eu perdi meu marido e ela, o pai. Ficamos e ainda estamos desoladas. Éramos uma família muito unida e amada. Tudo era unânime entre nós três, mas o perverso coração o tirou de nós. Um infarto ceifou-lhe a vida.
Minha filha é exemplo de ser humano, boa filha, boa profissional, amiga e o que precisar ser.
Apesar de única, nunca foi mimada. Foi criada com muito amor e carinho, porém, com limites e muitos limites. Às vezes podia dizer-lhe sim, mas dizia não. Filho preciso ser criado com limite para não sofrer na adolescência e na fase adulta. Sempre fiz o possível por ela. Ainda hoje verifico se estar bem ao dormir, se estar coberta, com frio ou com calor. Toalha e alguns acessórios pessoais ainda os levo ao banheiro.
Fico pensando no momento em que precisarmos nos separar com um possível casamento dela, quando surgir a sua metade. Vou sofrer, pois somos muito unidas, somos amigas, somos mãe e filha, temos vida compartilhada e posso dizer: “Ela veio para preencher qualquer lacuna na minha vida”. Filho é uma dádiva de Deus, mas filho único é algo que não se define. A gente se agarra como se fôssemos nós mesmos. Unidos para sempre!
Por Maria Auxiliadora (Dorinha)