Coluna – E outra vez falar de saúde mental

Coluna – E outra vez falar de saúde mental

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Mais um setembro amarelo e, mais uma vez, preciso falar de depressão, de sobrecarga materna e da necessidade urgente de acolhermos as mães, mais ainda a nós, mães atípicas. Eu queria dizer que nossa maternidade de nada difere das ditas “típicas”; queria mesmo, de verdade, mas não é possível. Minha maternidade, a maternidade de minhas comadres, a maternidade de minhas amigas de salas de espera, a maternidade da mãe que agenda exames e médicos todo mês, da mãe que frequenta o ministério público e a defensoria pública atrás de que os direitos de seus filhos sejam respeitados, a maternidade da mãe que deixa de comer pra não faltar remédio para a criança, essa não-maternidade não pode ser tida como a “típica experiência de criar uma criança”.

Não somos pobrezinhas, nem guerreiras, muito menos escolhidas para uma missão maravilhosa, porra nenhuma. Somos, na maioria das vezes, mulheres com o psicológico fragilizado, com pouca saúde física e muitas frustrações engolidas a seco. Precisamos muito gritar que não aguentamos mais em alguns dias e, em outros, conseguimos sorrir e gargalhar e mandar foto do último feito da criança para todos os contatos do WhatsApp. Uma palavra realmente define essa jornada: resiliência.

Queria, porém, não precisar de resiliência; queria que toda mãe atípica tivesse uma ou duas, ou melhor, três pessoas que convivessem muito com ela e sua família e estivessem sempre dispostas a levar a criança para um médico, um passeio, pegar na escola, ir por vezes na terapia com a criança, levar no parque, lavar a roupa, dar calcinhas e meias sem que a mãe peça. Queria que essas mães tivessem quem levasse a elas sopas quando estão doentes, massagens num dia de respiro e sorvete de chocolate num domingo qualquer, ou talvez vinho numa sexta-feira à noite.

Mas, mais que tudo, eu queria sonhar com o dia em que o diagnóstico de uma criança virá acompanhado de uma indicação para a mãe já receber ajuda profissional de psicólogo, um benefício específico para essa cuidadora cuidar dela, quem sabe uma assistente social que vai ajudar com a papelada de benefícios, SUS, cirurgias, um departamento do ministério público pronto para dar todas as informações e, também, uma escola com professores, auxiliares, cozinheiras e até porteiros bem pagos e capacitados para receber nossas crianças sem medo.

Será que um dia ouviremos que nosso maternar não precisa ser tão solitário, de tanta luta e, principalmente, não precisa ser na escala 24 x 7? Haverá um dia em que a sociedade vai pensar: como cuida de alguém sem saúde mental? Com choros engasgados, raivas que viram tumores e dias de dor que nos causam ataques cardíacos aos 40 anos?

A única coisa que, sim, podemos dizer que nosso maternar tem de igual é que priorizamos as crianças acima de tudo. Mas isso está longe de ser o certo. Elas precisam de nós de pé, saudáveis, felizes, realizadas. Eu quero ser a mãe que minhas filhas merecem e quero e tenho direito a uma maternidade com saúde mental.

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