Mulheres-mães protagonistas da própria história

Mãe: afeto ou função?

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MÃE:
substantivo feminino
1.
mulher que deu à luz, que cria ou criou um ou mais filhos.
2.
fêmea de animal que teve crias ou que cuida ou cuidou delas.

Não é raro ouvir definições sobre o que é ser mãe: mãe faz qualquer coisa pelo filho, mãe prefere gastar com o filho do que com ela própria, mãe não deixa o filho sob os cuidados de outras pessoas, mãe tem dó de deixar a criança na creche para trabalhar.

Mãe cuida, mãe ama, mãe defende o filho com unhas e dentes, mãe lava a roupa, passa, alimenta, leva ao médico, ministra as medicações, faz inalação, ajuda com o dever de casa, leva na pracinha, e planeja o aniversário.

Dentre um milhão de outras coisas que bombardeiam meu pensamento enquanto escrevo esse texto.

A questão é: ser mãe pode ser definido a partir dessas infindáveis ações realizadas com o intuito de garantir o bem-estar da criança?

É realmente a mãe quem precisa cuidar de todas essas tarefas e nos tornamos menos mães à medida em que deixamos de realizar algumas delas?

E ainda mais: Como olhamos as mães que resolvem desempenhar a maternidade de forma compartilhada, que divide essas funções com quem as queira desempenhar?

Na minha jornada em busca da maternidade possível, consegui dividir o termo mãe em dois grandes espectros: a dos cuidados objetivos e o do afeto e, ambos são permeados de cobranças e de uma idéia natural de que a mãe é única e por isso insubstituível no afeto que dispõe e nas funções que desempenha e isso, não raro, é motivo de adoecimento dessas mães que, ou vivem privadas de seus próprios desejos ou culpadas por se renderem a eles.

A maternidade possível, de certo modo, caminha por não aderir ao discurso adoecedor de que “mãe é…” Dividir tarefas, permitir-se a não fazer, sentir-se grata por quem deseja fazer pelos nossos filhos é um ato de amor para nós mesmas.

Permitir que nossos filhos sejam amados, acolhidos e porque não, educados por nossos pares é uma atitude revolucionária a medida em que fomos educadas para “dar conta de tudo sozinha”.

Acrescento a esse contexto o fato de que, quando falamos em mães que criam sozinhas suas filhas e/ou filhos essa cobrança dobra de tamanho porque a obrigação que foi socialmente construída para ser dividida entre dois, passa a ser desempenhada por uma e, essa mãe fica inclusive impedida de solicitar ajuda sob a ameaça de ser repreendida, já que quem deveria fazer era o pai (que na maioria das vezes não o faz).

Assim sendo, é necessário expandir o sentido do que é ser mãe para abarcar toda a pluralidade desse afeto-função. Maternar é ação e como toda ação, necessita de um sujeito que a realize.

Os sujeitos, por sua vez, são plurais e trazem em si, afetos que os fazem desempenhar de forma única essa função. Julgar e impor são violências que cometemos contra a mãe.

Por outro lado, se nos propomos a amar, cuidar e zelar pelo bem estar dessa criança que está perto de nós garantimos uma mãe menos sobrecarregada e consequentemente uma criança mais feliz.

Referência
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa.


Por: Aline Ciriaco, mulher negra, estudante de psicologia e mãe sozinha da Ana e do Antonio – Instagram: @ciriaco.al


Texto revisado por Cristiane Araújo.

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