Mulheres-mães protagonistas da própria história

Quando nasce a mãe

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Por Mila Wasconcellos  – @porondeescrevo

Sinto muito, mas não é como dizem por aí.
Não mesmo.
Quando nasce um filho, não nasce uma mãe. Não imediatamente.
Não no tempo de um parto, nem mesmo daqueles longos, que começam num dia e terminam no outro.

A mãe não nasce de pronto, como um evento perfeito e acabado, com início, meio e fim.
Não, sinto muito, não é assim.

O filho nasce.
A mãe continua nascendo.

O verbo, neste caso, é conjugado num gerúndio infinito.

A mãe nasce ao gerar, ao carregar, ao se levantar com uma mão protegendo o barrigão e a outra segurando para se equilibrar.
A mãe nasce ao parir, ao nutrir, ao acordar, acalentar e cuidar.
A mãe nasce a cada virose enfrentada, a cada situação nova e inesperada, que desarranja, desespera ou apenas a leva  muito perto da exaustão.

A mãe nasce a cada primeira vez do filho, que é a primeira vez da mãe também.

Do primeiro sorriso ao primeiro problema vivido que aparece sem prévio aviso e tira o chão.
Nasce também a cada última vez, mesmo quando nem é sabida e a despedida só é percebida e sentida muito tempo depois.

A mãe nasce em cada abraço apertado, de olhos fechados, agradecendo a tudo que lhe é sagrado pela alegria simples de estar no momento presente.
Nasce nas alegrias e nas dores do filho, quando tem que aprender que não controla a vida e que mesmo sem controle é possível seguir em frente.

A mãe nasce e continua nascendo, quando o filho está adolescendo, e tudo tem que ser reaprendido e reajustado, porque de repente mudaram as regras do jogo, e quem antes queria colo, agora quer espaço.

A mãe nasce a cada erro que se torna consciente, a cada medo efervescente e a cada nova tentativa de fazer diferente e, talvez, melhor.

A mãe continua nascendo e aprendendo a ser mãe mesmo quando já é avó e as prioridades se confundem, com algum conflito envolvido, entre o amor antigo que é o filho e aquele amor novo de neto, quando se quer mais agradar e ver o olhinho brilhar, do que educar.

A mãe continua nascendo mesmo na ausência, quando o nascer significa reaprender a viver.

Quando nasce o filho, a mãe está apenas começando a nascer.

Revisão: Luiza Gandini – @lougandini.

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