Deixe seu filho se arriscar!

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Vocês já ouviram falar de Gever Tulley? Esse cara é um cientista da computação autodidata que criou um conceito incrível: incentivar a criatividade e a aprendizagem prática em crianças por meio de projetos de construção. Ele é um daqueles palestrantes do TEDx, sabe? Aqueles que a gente vê um recorte dos vídeos nas redes sociais e fica pensando: “Poxa, faz todo sentido!”.

Mas, e o que eu tenho a ver com isso?

Bom, Tulley escreveu um livro chamado “50 Coisas Perigosas que Você Deve Deixar Seus Filhos Fazerem“. O título já é um tanto quanto chamativo, né? E a ideia central do livro é ainda mais interessante: crianças precisam ser expostas a riscos controlados para desenvolverem habilidades essenciais, como independência, criatividade e pensamento crítico. Em vez de superproteger os filhos, os autores sugerem atividades que envolvem um certo nível de perigo, mas que ensinam lições valiosas sobre segurança e o mundo real.

E eu achei isso simplesmente genial!

Confesso que sempre me assusta um pouco ver mães tão cuidadosas com os filhos. E não estou falando de zelo, mas daquele excesso de proteção que acaba impedindo a criança de aprender por si só. Nunca deixa a criança subir em uma árvore porque pode cair. Ué, pode mesmo, mas também pode aprender a se equilibrar, a avaliar riscos e a confiar no próprio corpo.

A ideia não é incentivar irresponsabilidade, pelo contrário. A proposta de Tulley é justamente permitir que as crianças experimentem pequenos perigos em um ambiente controlado. Isso, segundo ele, prepara a criança melhor para a vida adulta e até reduz a propensão a acidentes graves no futuro. E, pensando bem, faz sentido, né?

Criança que nunca mexeu em uma faca pequena para descascar uma fruta sozinha vai saber lidar com uma faca grande quando adulta? Aquela que nunca teve a chance de brincar com fogo (de maneira supervisionada) vai saber o que fazer caso precise lidar com uma emergência na cozinha?

Claro que tudo tem um limite, e cada família sabe o que funciona dentro da sua realidade. Mas, no fim das contas, talvez a gente precise mesmo afrouxar um pouco as rédeas e confiar mais na capacidade das nossas crianças de aprenderem com o mundo. Quem sabe, em vez de apenas dizer “não faça isso”, a gente possa dizer: “vamos fazer isso juntos e entender como funciona?”.

Mas ninguém disse que é fácil, né?! Ainda mais quando somos mães e temos medo por nossos filhos. Eu olho para o Bê querendo explorar o mundo e já imagino que ele vai cair, se machucar, e já me dá um frio na espinha.

Eu tive três abortos espontâneos antes do Bê e, quando ele tinha três meses, estava no colo de uma amiga e ela caiu com ele. Lembro até hoje da sensação que senti enquanto segurava ele no colo, tão pequenininho, na porta da sala pra fazer a tomografia pra ver se estava tudo bem. Tenho certeza de que a maior parte das mães tem seus motivos para justificar seus medos em relação aos filhos, mas é tão importante que a gente deixe que eles vivenciem o mundo…

E não estou falando sobre “Ah, mas nos anos 90 a gente viajava no porta-malas, agora tem que usar cadeirinha?”. Sim, agora tem que usar cadeirinha porque estudos de segurança foram feitos e constataram que isso diminui o risco de que a criança se machuque seriamente no caso de um acidente. Não é sobre isso que estou falando aqui.

Estou falando sobre deixar que a criança faça as coisas sozinha e lide com situações que consideramos perigosas, mas que estão no dia a dia de qualquer adulto; não só mexer com uma faca mas ficar frustrada por não comprar o chocolate chamativo que fica na altura deles na fila do caixa. Ou seja, em algum momento, ela vai ter que aprender a lidar com tudo isso. Não é melhor, então, que ela aprenda com quem tem mais amor por ela?

Nós temos também o Método Montessori, que é uma abordagem educacional que valoriza a autonomia da criança, mas que sugere que essa autonomia seja desenvolvida em um ambiente preparado e adaptado para ela. Isso é ótimo também, mas o mundo real não se adapta a nós; nós é que precisamos nos adaptar a ele. Então, não faz muito mais sentido que, em vez de tentarmos adaptar o mundo para a criança, a gente a ensine, com amor e supervisão, a se adaptar ao mundo?!

Mas agora me conta: e você? Tem conseguido equilibrar proteção e liberdade na criação dos seus filhos?

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Autora: Beatriz Oliveira – @mamaetopia

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