Mulheres-mães protagonistas da própria história

COLUNA | O poder que a mãe não tem

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Como eu gostaria de ter o maior dos poderes dessa vida, que é arrancar com as mãos todo sofrimento, medo, insegurança e tristeza que a minha filha sente quando tem uma crise epilética.

Queria ter o poder de transformar todos esses sentimentos e emoções em alegria, leveza, felicidade, confiança, fé, otimismo e esperança. 

Não que ela não os tenha, mas nesses momentos é tão angustiante seu desabafo que me agarro ao que venho construindo dia após dia em minha vida, que é manter-me firme na sua frente, acolhendo-a em meus abraços, confortando-a, deixando que expresse suas emoções para aprender a lidar com elas, entendendo que fazem parte da vida e dessa forma contribuindo para sua própria autorregulação.

Como eu gostaria de ter o poder de retirar a epilepsia da minha filha e transportá-la para mim, como aquelas máquinas dos filmes de ficção que transportam as pessoas para outros lugares, queria entrar nessa máquina com ela e transportar essa doença para meu ser.

Queria ter tido o poder para evitar que minha filha contraísse citomegalovírus, que trouxe tantos problemas para ela. 

Como eu gostaria que minha filha tivesse tido uma adolescência normal, saudável, com amizades, namorado, passeios, poder ter o direito de ir e vir sozinha sem precisar sempre de alguém acompanhando-a, como é até hoje.

Queria ter tido o poder de evitar todo preconceito velado que sofreu na escola por parte de colegas e professores.

Como eu gostaria de ter o poder de ser invisível para estar ao seu lado quando está sozinha protegendo-a de tudo sem que ela percebesse, para não deixá-la vulnerável e fragilizada. 

Queria ter o poder de fazer um clone meu para estar ao lado dela quando eu não pudesse estar presente, protegendo-a de todos os perigos.

Ah! Quanto poder uma mãe tem. 

O poder de se transformar, de desconstruir crenças e padrões para enxergar não o problema em si, a ponta do iceberg, mas enxergar todas as possibilidades que estão submersas e muitas vezes a dor não nos deixa ver.

O poder de aceitação, de acolher a dor e escolher como vai lidar com ela. O poder de aprender a ressignificar os momentos difíceis, a ser resiliente, deixar fluir e entender que tudo muda a todo instante, tanto a alegria quanto a tristeza.

O poder de aprender que a vida é impessoal, imperfeita e impermanente, que viver presa no passado causa depressão e viver cogitando o futuro gera grande ansiedade e assim deixamos de aproveitar o que temos de mais grandioso que é o AGORA, o HOJE, o PRESENTE.

O poder de aprender a ter GRATIDÃO até pelos momentos difíceis, pois eles poderiam ter sido mais difíceis.

O poder de aprender a olhar para as pequenas coisas, os pequenos momentos e dizer: 

“Eles não são pequenos”.

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