COLUNA | Meu bebê é lindo. Meu corpo é feio

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Foi com essas palavras que iniciei um texto que escrevi há 8 anos atrás durante meu pós-parto. Hoje quero dividir ele com vocês.

Não se assuste com o título. É uma frase simples mas de impacto e que se relaciona ao que talvez poucas mães falem: o corpo pós-parto. Entendo que exista uma mobilização crescente em engrandecer as marcas do corpo grávido, seja pelas cicatrizes, seja pelas “sobras de pele”, estrias e qualquer outra novidade que aparece depois do nascimento do bebê. Porém, o que quero relatar aqui é um desabafo íntimo de quem entende tudo isso mas, ao mesmo tempo, não está em harmonia com esse novo corpo.

Só para deixar claro: nunca fui uma top model E nem tive um corpo definido. Já fui meio magra, muito magra, meio gordinha, inchada e outras variações. Sempre gostei de cuidar do corpo, mas nunca saí do básico: um hidratante, um bom xampu, fazer unhas e outras coisitas bem simples. Depois que me tornei vegetariana, há 15 anos atrás, resolvi ficar também mais natureba nos cosméticos e na alimentação. E como exercício, sempre gostei muito de dança e alongamento, que basicamente fiz por muito tempo até também encontrar o Yoga. Acho que meu histórico nesse quesito é bem normal, né?

Bom, vamos à gravidez. Engravidei com muita plenitude! Amei cada centímetro do corpo grávido, mesmo com as dores, os milhares de sintomas e cansaços. Me lambuzava de óleos naturais todos os dias e sempre me contemplava no espelho. Namorava cada novidade como um prêmio! Não esqueço o dia em que o meu mamilo esquerdo mudou de forma e cor e virou um mamilo digno de amamentar um bebê. Estava muito, muito feliz com toda aquela exuberância. Ao final da gravidez, tinha engordado uns 12kg. Aí meu bebê nasceu…

Acho que meu primeiro impacto sobre o corpo de pós-parto foi aquela sobra da barriga. Sabia que era normal, mas ainda assim me assustei. Toda aquela exuberância virou um tecido mole, escuro. Tudo meio sem sentido pra mim. Passou-se um mês. Além da barriga, apareceram pintas por todo meu corpo, manchas no rosto e os seios eram grandes demais pro meu gosto. Digo sem meias palavras que era muito difícil essa mudança. Eu não era a de antes, nem a grávida exuberante. Sou outro alguém em tão pouco tempo que não sei ainda absorver a ideia.

Confesso que mal me olho no espelho. Minhas roupas parecem todas esquisitas neste novo corpo, afinal, sempre fui uma pessoa de poucos seios, cintura média, quadril largo e pouca barriga. Agora meus seios pulam de minha roupa, a cintura sumiu, a barriga apareceu e o quadril parece maior que antes.

Não quero assustar as futuras mães com este relato. Apenas quero dizer francamente que a mulher precisa de amor e acolhimento no pós-parto. Além de toda adaptação para receber um bebê, alimentá-lo, aprender seu ritmo com ele, retomar lentamente suas atividades, ainda há um corpo diferente que pode mexer muito com sua auto-estima. Pra mim, foi um corpo deformado, no sentido mais literal da palavra: sem-forma. Era um misto do que fui até os 30 anos, do que criei em nove meses de gestação e a saída de um bebê de dentro de mim.

Não acho que por conta disso as mulheres devem se desesperar pra ter um corpo menos “deformado”, nem que elas devam cair naquele papo besta de ficar atenta “pra não engordar senão você pode perder seu marido”. Nada disso mesmo! Sei que existe uma ansiedade infeliz na sociedade onde, ao saber de um novo nascimento, há a clássica pergunta: “E a mãe? Já voltou ao normal?”, ou seja, “Ela está magra ou engordou muito na gravidez? Tá fazendo dieta? Será que ela volta a ser como era antes?”

Mães, esqueçam esses papos! Vamos nos concentrar na relação única com seu corpo. Como você se sente? Acha ele feio, bonito, estranho? Quer fazer algo pra se sentir melhor? Comprar um óleo corporal, um creme que tira manchas? Fazer uma caminhada, exercitar o corpo, ou simplesmente você precisa de tempo para se despedir do que você foi, ou da grávida que foi? Acho que este é meu processo agora.

Enquanto faço algumas mudanças para melhorar a minha auto-estima (renovar meu guarda-roupa, passar mais óleos, me exercitar mais, cortar alimentos gordurosos), vou me despedindo dos corpos que ficaram na memória e aceitando o que tenho até então. É um luto, é difícil, mas aceito viver este momento plenamente.

Autora: Karla Fontoura – @karla.expansiva.dilacerante
Revisão: Luiza Gandini – @lougandini

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