Quando decido voltar a academia, depois de mais de dez anos distante, minha intenção é pensar em estratégias que unam necessidade e prazer. A necessidade, para conseguir um emprego melhor e dar conta da vida de mãe solo de um menino. O prazer, para ter a oportunidade de voltar a estudar, algo que sempre me agradou, mas, que foi deixado de lado porque o cansaço mental e a solidão materna tomaram conta da minha vida.
Preferia mil vezes que fosse na universidade presencial. Queria ver gente, fazer novas amizades, estar com mais adultos, porém, minha diminuta rede de apoio me deixou claro que isso não aconteceria. O jeito foi cogitar o, 100% EaD. Com poucas condições financeiras, fui atrás de um desconto e consegui entrar no curso de Pedagogia (licenciatura) pela UNOPAR. Com essa formação muitas portas poderiam se abrir e, pelo menos, cabia na minha vocação de amar, ensinar e pesquisar.
De repente, chega 2020 e uma pandemia terrível, algo que teve um peso cruel, especialmente para as mães solos. Cogitei diversas vezes desistir de pagar a faculdade, pelo aperto financeiro devido à crise sanitária. Respirei fundo, diminui ainda mais os gastos (a base de muito cuscuz e banana) e segui em frente. Quando tinha uma sobra de dinheiro, investia em cursos livres para aprender mais e enriquecer meu currículo.
Tentei estágios, mas nada chegava porque, após a abertura de algumas escolas, a demanda ainda seria presencial e eu tinha perdido toda a minha rede de apoio naquele momento. Surge a oportunidade da iniciação científica e me sinto em casa. Finalmente, ler, estudar e produzir! Com uma disciplina estrita de quem sabe que as boas chances não podem ser desperdiçadas, dividia meu dia em estudar, ler, cuidar da casa, trabalhar, cuidar do pequeno, alfabetizá-lo, ter algum lazer entre quatro paredes e sobreviver às atrocidades de um governo genocida.
Nesse tempo, busquei sempre conhecer mais grupos acadêmicos que debatessem sobre maternidade, tema que dominava meus dias e de onde eu queria abrir diálogos dentro do ambiente acadêmico. Onde estão as mães? Como elas estudam, trabalham e cuidam dos filhos? Quem lhes dá suporte físico, emocional e financeiro para que seus sonhos não morram? Embebida nessas questões, descobri o Programa Amanhã, idealizado pelo Parent in Science, um projeto que disponibiliza bolsas de iniciação científica para inserir alunas mães no meio científico, promover sua permanência nos cursos e dar estímulo para a conclusão do ensino superior.
Li a proposta e fiquei pensando como faria diferença eu receber esse apoio e poder respirar para terminar minha faculdade. Fiz a inscrição e, para a minha surpresa, fui aceita! Agora, graças a esse alívio, poderia me dedicar com mais tranquilidade à iniciação científica e às disciplinas do meu curso. Só nós, mães solos, sabemos como nossa cabeça funciona diferente quando temos segurança financeira. Sentimos liberdade para ter sonhos, criar planos e arriscar novas possibilidades! Agora, meu curso se encerra e fecho este ciclo com a produção e publicação de um resumo expandido e, logo mais, de um artigo, além de ter escrito um ótimo projeto educacional para fechar meus estudos na formação de Pedagogia.
Agradeço, de todo meu coração, ao projeto Amanhã por ter me dado a oportunidade de me formar e sair das estatísticas de evasão acadêmica que prevalecem nas mulheres-mães em situação de vulnerabilidade material. Eu consegui! Sou pedagoga!