Atualmente, há muita informação sobre como educar de forma respeitosa, empática e não violenta. Entretanto, diversas vezes, a aplicação desses conceitos é distorcida, levando à superproteção dos filhos. Isso pode ser enxergado desde a primeira infância, com pais que não deixam a criança desenvolver a coordenação motora ampla — correndo, subindo e pulando — para evitar o risco de um joelho ralado. Na adolescência, por exemplo, a superproteção leva jovens a ganharem autonomia em transportes públicos cada vez mais tarde. Sem dúvida, esse tipo de criação tem reflexos no início da vida adulta dos rebentos.
Em relação à educação, por exemplo, o exagero na participação da vida escolar dos filhos pode começar na educação infantil, com a elaboração de trabalhos manuais impecáveis pelos pais, para que os filhos levem para a escola. Na pré-adolescência, não é rara a troca de mensagens em grupos de pais sobre o dever de casa, mesmo quando os filhos já têm celular, com seus próprios grupos para trocas de mensagens com os colegas. O altíssimo nível de engajamento e supervisão das atividades escolares dos filhos pode permanecer durante todo o ensino médio e, em alguns casos, até mesmo na faculdade.
O desdobramento dessa forma de educar os filhos já começa a ser percebido pelo mercado de trabalho. Conforme pesquisa realizada pela Intelligent.com, em dezembro de 2023, com 800 empregadores dos Estados Unidos, um a cada cinco havia entrevistado pessoas da geração Z (nascidos aproximadamente entre 1995 e 2010) que levaram os pais para entrevistas de emprego. Contraditoriamente, a geração que critica essa atitude é a mesma que pratica a superproteção na criação de seus filhos, sem enxergar relação entre as duas coisas.
Nesse contexto, é importante lembrar que um dos principais objetivos da parentalidade deve ser o desenvolvimento da autonomia dos filhos: dar as condições necessárias para que a cria conquiste sua independência, de forma que os pais se tornem desnecessários, para que o vínculo entre as duas gerações permaneça não por necessidade, mas sim pelos laços afetivos construídos ao longo do tempo.
A superproteção se esconde no meio de boas intenções, mas pode ser extremamente prejudicial ao amadurecimento dos filhos. A adolescência deve ser uma transição para o início da vida adulta, por mais desafiador que isso possa ser para os pais. Superproteger adolescentes pode levar a uma extensão quase infinita da infância, ou de comportamentos infantis.
Como será o futuro das pessoas que levam os pais para entrevistas de emprego, quando a idade avançada dos genitores não viabilizar mais tamanho grau de suporte? Com que idade essas pessoas vão finalmente conquistar independência e autonomia? Quão difícil e doloroso será passar por essa transição em idade mais avançada, em vez de passar durante a adolescência? Estas perguntas — e muitas outras — seguem sem resposta até o momento. Faz-se necessário esperar para ver como os jovens adultos de hoje irão respondê-las.