Queria avisar a vocês que estou aprendendo a amar intensamente algo que nunca foi foco na minha vida, mas que agora ganhou meu coração. Sem meias palavras:
“Dinheiro, eu te amo”
Enquanto esse assunto passeava pela minha mente, vi na minha timeline o vídeo de uma humorista contando uma história. Ela explica que em 2012 ela trabalhava em dois empregos e, com o dinheiro, pagava a faculdade do seu namorado na época. No dia da formatura, no discurso de agradecimento, o rapaz — para desgosto dela — homenageou o cantor Chorão, do Charlie Brown Jr., banda brasileira de rock dos anos 2000, pela conquista. O público cai na risada com a narrativa e eu tenho certeza isso te faz lembrar de algo semelhante que você viveu/viu.
Quem nunca passou pela experiência de ajudar financeiramente alguém como um namorado, amigo, família? Para as mulheres, essa prática é ainda mais regular, inclusive com o argumento de que o apoio financeiro será passageiro enquanto a pessoa não se organiza ou não consegue um emprego. A esperança é de que essa pessoa logo se ajustará e, um dia, compensará financeiramente todo seu apoio. Será? Minha experiência pessoal é que não. Não há qualquer retorno.
Como mulher, somos condicionadas a compartimentalizar o dinheiro no espaço da necessidade e do lugar de troca do bem-estar de quem cuidamos. Ganhamos dinheiro para dividir com quem amamos, porque culturalmente somos validadas pela nossa capacidade em servir nossas relações. Ambição e altos salários não cairiam bem com a pureza e delicadeza esperada pelo corpo-pensamento feminino. Mas quero te avisar que esse condicionamento social possui apenas um propósito: nos controlar.
Zanello (2020, p.146) em seu livro, distingue dois pontos sobre a relação negativa da mulher com o dinheiro. Um seria a questão educacional e cultural em relação a mulher de evitar um comportamento mais ativo, para exigir melhores salários ou condições. Tanto que — ressalva minha — de acordo com uma reportagem de 2019 da BBC News, durante as recessões econômicas os executivos preferem as mulheres porque elas têm salários menores do que os homens e, em geral, aceitam condições de trabalho precárias.
O segundo ponto é o fato do dinheiro ser um símbolo de poder e estar associado à ambição e à virilidade masculina, o que poderia colocar em xeque a feminilidade.
“Clara Coria (1996) aponta assim que na base da dificuldade de muitas mulheres em lidar com o dinheiro está o temor de perder a feminilidade — e, consequentemente, o amor e a admiração dos homens — e a aprovação social.”
(ZANELLO, 2020, p. 174)
Na verdade, existe um discurso sobre o caminho do dinheiro na vida da mulher. Ele seria a moeda de troca para conquistar e manter sua feminilidade em dia e padronizada. Não é à toa que existem pesquisas que revelam como as mulheres gastam até 30% de seus salários em produtos de beleza e procedimentos estéticos.
E com essa dificuldade em lidar com as questões financeiras, somado a gastos contínuos com a aparência, a família, o namorado e outras pessoas onde o amor das mulheres é espelhado, o que acontece é sermos propensas a ser mais pobres na velhice:
“As mulheres acumulam no decorrer da vida desvantagens (violência, discriminação, salários inferiores aos dos homens, dupla jornada, etc) e as mulheres têm a probabilidade de serem mais pobres dos que os homens e dependerem mais de recursos externos.” (BERZINS, 2003, p. 28).
Dinheiro em uma sociedade capitalista significa deter poder. Poder implica em acessar espaços exclusivos ou ter sua voz ampliada e valorizada. Uma mulher com dinheiro é uma rachadura nas estruturas que interpelam nossa submissão e ajustamento a uma vida dominada em agir pela vontade dos outros. É exatamente sobre isso! Ter dinheiro, como mulher, é ter direito a ter vontades.
Com essa compreensão em mente e entendendo as armadilhas que criaram para nós em relação ao dinheiro, decidi me educar financeiramente. Nos últimos anos tenho conversado com amigas sobre o assunto, reunido informações, conhecido alternativas e encontrado todo tipo de conhecimento que torne a minha relação com o dinheiro um espaço saudável e propenso a muitas oportunidades de ganhá-lo e acumulá-lo — sem qualquer culpa.
Especialmente depois da maternidade, eu derrubei qualquer concepção de que boas amizades e uma família legal seria suficiente para criar meu filho. Seja por motivos legítimos ou não, muitas pessoas à nossa volta não vão nos dar o suporte que precisamos. Mas o dinheiro pode pagar uma boa profissional para cuidar dele, um deslocamento confortável para uma viagem tranquila, um passeio divertido e até uma terapeuta qualificada que vai me amparar nos momentos de dificuldade.
Por isso, hoje eu quero dizer ao mundo como o dinheiro não é apenas uma questão de sobrevivência para mim. Eu aprendi a amar a maneira de lidar com ele, sempre pensando no meu conforto e bem-estar — como nunca fiz antes! Eu amo dinheiro e quero te ajudar a chegar nesse lugar também. Por isso, reuni aqui uma lista com dicas minhas sobre educação financeira. Aproveite esse material da melhor maneira e vamos um dia, juntas, chegar a lugares inacreditáveis com o poder que o dinheiro nos dá!
- Pesquise sobre bancos digitais pois a maioria deles não possui taxas e oferecem rendimento 120% de CDI para o dinheiro que estiver na conta.
- Já existem várias opções de cartões de crédito sem anuidade, especialmente os cartões digitais.
- Pessoas de baixa renda devem procurar o CRAS do seu bairro e pesquisar quais benefícios sociais elas podem obter de políticas públicas assistenciais como o Auxílio Brasil, desconto na conta da energia elétrica, isenção de taxa para concursos públicos, etc.
- Há benefícios sociais específicos para jovens e idosos como meia entrada ou isenção em ingressos de cinemas e teatros, vagas gratuitas em companhias de ônibus e de avião.
- Faça a organização financeira familiar, anotando entradas, saídas e pagamentos futuros. Há inúmeras opções de aplicativos que auxiliam nesse processo.
- Se tiver muitas dívidas, aproveite para negociá-las nos feirões do Serasa ou direto com as empresas financeiras de cartão de crédito e bancos. Insista, peça opções mais flexíveis com menos juros ou com maiores descontos em caso de pagamento integral.
- Separe e venda objetos, roupas, livros e outros itens novos e semi-novos da sua casa que estão parados e sem utilidade.
- Existem sites que pagam para uma variedade de atividades como responder pesquisas, testar produtos, serviços e aplicativos.
- Fique atenta sobre plataformas onde você pode oferecer cursos online e ter retorno financeiro como o hotmart e moodle.
- Desenvolva o consumo consciente. Exemplos: comprar itens básicos no atacadão, visitar brechós ou lojas de produtos de segunda mão, ir à feira e negociar com o feirante, aproveitar alimentos da estação.
- Separe sua reserva de emergência. Ela deve ser igual a 6 x do seu consumo mensal. Por exemplo, R$2.000,00 de consumo = R$12.000,00 de reserva de emergência.
- Planeje suas metas financeiras. Quer comprar uma geladeira? Estabeleça quanto de dinheiro precisa poupar mensalmente e por quanto tempo para conseguir adquiri-la.
- Separe 10 a 30% de sua renda para investir em renda fixa (a maioria dos bancos digitais oferecem renda fixa de 100 a 120% do CDI). Dinheiro na poupança rende pouco ou nada.
- Faça renda extra quando surgirem as oportunidades. Exemplos: passear com cachorros, trabalhar em eventos, fazer revisão de textos, etc…
- Diminua suas despesas, quando possível. Não tem tempo para ver o streaming? Cancele. Muito gasto com comida por aplicativo? Busque preparar o almoço da semana e congelar.
- Evite emprestar dinheiro, especialmente para parentes e amigos.
- Fique atenta a bancos ou empresas financeiras que oferecem cashback ou acúmulo de pontos ou milhas.
- Atenção à taxa rosa, ou seja, a tendência de produtos para o público feminino serem mais caros do que os masculinos. Exemplos: barbeadores, xampus, sabonetes, desodorantes.
- Se está separada ou divorciada, busque o direito à pensão de seus filhos. Vá até a Defensoria Pública e pegue todas as informações necessárias para regularizar essa questão.
- Eduque-se com vídeos, blogs, livros e cursos.
- Não deixe todo o controle financeiro na mão de terceiros, mesmo que sejam pessoas de confiança.
FONTES:
BERZINS, M. A. V. da S. Envelhecimento populacional: uma conquista para ser celebrada. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 75, 2003, p. 19–35.
ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Editora Appris, 2020.